15 dezembro, 2006

Fire at midnight

Não há mais pachorra para a musiquinha de natal que nos entra pelos ouvidos nas ruas, nas lojas, nos elevadores, na televisão... tudo sempre o mesmo, desde as velhíssimas interpretações de clássicos aos êxitos pop como os da Mariah Carey ou dos famigerados Wham. Juro que cada vez que ouço "Last Christmas / I send you my heart" ou "All I want for Christmas is you" dá-me vontade de perverter o espírito natalício e agredir o próprio Pai Natal com os cornos da rena! Toda esta audiorreia roufenha só me transforma o Natal em algo amorfo e consumista. Pois para mim o Natal nada tem a ver com as ruas cheias de gente e barulho e lojas e embrulhos e empurrões e notas de 100 a abanar em frente à caixa. Nada disso é a paz, nada disso inspira a reflexão e o conforto que nos devemos por estas alturas, para medir os nossos actos e relações de mais um ano passado. Já para não falar do aspecto religioso, que isso iria dar azo a muitos e muitos paragrafos a dissertar sobre hipocrisia e cinismo.
Natal é a lareira à meia noite, um belo copo de Wyskey (sim, com "ey" como se escreve na Irlanda, como se destila três vezes e se amadurece oito anos em casco como na Irlanda!) e a boa música que não nos ofende a inteligência nem os ouvidos.
Por isso, sempre que me perguntam qual a minha música de Natal preferida, eu não tenho dúvidas em eleger o "Christmas Album" dos Jethro Tull (2003).
Foi através desta fabulosa compilação de temas que Ian Anderson realizou, alguns da banda e outros, adaptações de clássicos de Natal, que eu encontrei a banda sonora perfeita para a época, e que já me acompanha há 3 natais. A flauta transversal de Ian Anderson é sublime na redefinição de uma nova roupagem para clássicos como Holy Herald ou God Rest Ye Mery Gentlemen. Os arranjos e o ritmo, sempre com a jazzística típica de Jethro Tull, fazem o resto, unindo os espíritos em torno da música. De resto, mesmo velhos clássicos da banda, como Fire at Midnight, Bourée ou Ring Out Solstice Bells assentam como uma luva na nova roupagem natalícia que os Tull lhes teceram. E a qualidade do som é magistral. Tudo soa timbricamente correcto, dinâmico, equilibrado.
Concelho: se não encontrarem este album, não se deixem levar pela normalidade do Natal. Ouçam boa música Celta ou, que raios!, Bach, Schubert... tanta coisa boa para ouvir! Dai paz aos vossos ouvidos este Natal!

12 dezembro, 2006

Meloteca

Este fabuloso site merece uma visita por quem se interessa por música.

MELOTECA

25 novembro, 2006

E ainda mais vinil

Foi só nos últimos anos que o interesse pelo vinil ressuscitou de forma mais notória. Várias ordens de factores poderão ter contribuído para esse acontecimento: a existência de células de cada vez maior qualidade a preços competitivos; gira-discos muito simples e funcionais mas extremamente competentes; jovens a procurar sonoridades antigas nas colecções dos pais e dos tios; recuperação de gira-discos antigos e avariados e uma certa insurgência contra o estado mercantilista editorial moderno e a sua panóplia de formatos, inimigos quer dos músicos, a quem interessa que o seu trabalho tenha um registo o mais próximo possível da forma como eles construíram a música, quer dos consumidores, que são servidos de gato por lebre.
Veja-se o exemplo dos CD's anti-cópia, muitos dos quais utilizavam erros introduzidos de propósito na matriz para tornar a reprodução possível apenas por alguns aparelhos, impossibilitando a ripagem para MP3, mas também a leitura em muitos leitores de DVD, CD-ROM, auto-rádios e obrigando os leitores de CD Audio a ter o dobro do trabalho na correcção de erros, o que piora e muito a qualidade do som original. Resumindo, o consumidor compra aquilo que é anunciado como um Compact Disc Digital Audio, insere-o no seu leitor de CD-ROM e o que é reproduzido é o conteúdo em ficheiros comprimidos, e não a matriz audio do CD, e quando insere o CD num leitor exclusivamente audio, a reprodução é feita à custa de muita compensação de erros.
Um disco de vinil, no entanto, quando bem gravado, contém toda a informação que precisamos ouvir. Quando bem lido, é capaz de debitar música como ela merece ser reproduzida!
Mas como é que funciona a leitura de discos de vinil? É simples: o disco tem um conjunto de pequenos furos microscópicos alinhados numa espiral de muitas e muitas voltas, desde a periferia até ao centro. Nesses sulcos - grooves - está contida a música em forma mecânica, ou seja, dependendo da extensão, profundidade, etc. de um groove, são reproduzidas todas as componentes musicais.
Uma célula é o aparelho electromecânico que lê os sulcos do vinil, no sentido horário e em espiral, quando este é posto a rodar a 33 rotações por minuto (RPM), quando se trata de um LP, ou a 45 RPM quando se trata de outra forma de disco (Single, Maxi, EP). A agulha ou estilete, na extremidade da célula, acenta nos sulcos e, à medida que estes vão passando com a rotação do disco, transmite a vibraçao dos sulcos a um conjunto de magneto/bobina.
Existem dois tipos de célula, de acordo com o movimento relativo do magneto e da bobina. As células MM (Moving Magnet) têm a bobina fixa e a agulha ligada ao magneto, enquanto que as células MC (Moving Coil) possuem o íman fixo e é a bobina que se move.
Em todo o caso, o resultado é idêntico: as vibraçoes mecânicas da agulha a passar nos sulcos são convertidas em impulsos eléctricos pelo movimento relativo bobina/magneto. Estes impulsos são transmitidos através de cabos para um amplificador especial, ou um circuíto integrado dentro de um amplificador que admita phono, de forma a que o sinal eléctrico seja igualizado para posterior amplificação pelos mesmos andares em que são amplificados um CD ou um tuner.
Para tudo isto funcionar correctamente, é necessário que o braço do giradiscos esteja calibrado, na dependência do contrapeso, para a pressão óptima da agulha definida pelo fabricante da célula.
Importantíssima é também a cadência da rotação. Um disco de vinil depende do tempo, muito mais que um CD, onde o tempo equivale não a um movimento rotativo mecânico mas sim à interpretação electrónica da amostragem. Como tal, o tempo tem que ser mantido a todo o custo, o que torna a estabilidade do movimento de rotação do prato essencial para a boa reprodução do disco. Por sua vez, esta estabilidade depende de um motor eléctrico, que tem que manter um passo certo, o que só pode ser garantido por uma boa fonte de alimentação. A vibração de todo o conjunto deve ser, também, o menor possível, dado que a mínima vibração de um gira-discos interfere com as vibrações que uma agulha produz na leitura dos grooves, deteriorando a música.
Com todo este jargão técnico, já deve o leitor estar desesperado, pelo que lhe peço as minhas mais sentidas desculpas. Mas a descrição não é debalde. Serve para mostrar que é no vinil que está a verdade da música, e que mesmo o tempo, o compasso, a cadência, estão lá verdadeiramente e não são, ao contrário do que se passa nos formatos digitais, uma ilusão.
Pois dizem os mais cépticos que não há nada mais exacto que os bits e os bites e os 1's e 0's de que se fazem os formatos digitais. Concordo. Tudo no digital é exacto, preciso, incivelmente colocado no sítio certo à custa de muito processamento. Principalmente no processamento do erro. E o erro, num CD, é tão bem tratado que, mesmo com pequenos riscos o disco continua a reproduzir (quase) igual! Um leitor de CD é tanto melhor quanto mais facilmente conseguir tratar o erro e discerni-lo daquilo que interessa: a informação musical.
De facto, o CD tem vantagens fabulosas sobre o vinil, e o SACD terá mais vantagens aínda, mas a qualidade da música reproduzida não se situa nessa lista de atributos. Pois a questão é muito simples: comparando um gira-discos a um leitor de CD do mesmo preço, o gira-discos, quando bem calibrado, soará sempre melhor. O facto é que, nas nossas casas, o CD substituíu o vinil com glória e qualidade, pois na maior parte dos casos, os nossos velhinhos gira-discos não souberam estar à altura. Faltou-lhes afinação, célula, braço, motor, tempo certo para destilar a magia do vinilo. E os nossos discos velhinos, riscados, sujos e gastos em nada ajudaram.
Ah! Falei em preço! O vil metal assombra sempre estas velhas questões! Assombrava, meus caros! Se um leitor de CD competente da gama de entrada de muitas marcas reconhecidas (ex. ROTEL, NAD, Cambridge, etc...) ultrapassa os 300 euros, quanto não custará um bom gira-discos? Não havia muitas opções de gira-discos de gama baixa que não fossem autênticas fraudes, electrodomésticos de plástico sem alma nem brio nem dignidade para as funções que lhes foram atribuídas! Os restantes leitores tinham preços astronómicos, muito além dos 600 euros de um Technics profissional (muito bom para DJ's, mediano para ouvir música em casa). Os gira-discos bons sempre foram muito caros.
O mercado, apenas neste aspecto, evoluíu para melhor. Democratizou-se no sentido de dar resposta àqueles que queriam ouvir os seus discos com a melhor qualidade possível, sem gastar muito dinheiro. Há já marcas que disponibilizam gira-discos formidáveis para os seus preços, extremamente competitivos. Veja-se, por exemplo, o ProJect Debut III, que já vem equipadinho com célula Ortophon, afinado e pronto a utilizar, com um preço que ronda os 240 euros. Garanto-vos que comparado com um daqueles bons leitores de CD de 300 euros, vai dar-vos vontade de atirar os CD's pela janela.
Nada mau para reproduzir sonhos, ahn?

18 novembro, 2006

Vinil Forever!

As guerras de formatos em registo audio só serviram para fazer aperfeiçoamentos mínimos nos registos digitais, chegados que estão ao limite das suas potencialidades. Nem CD, nem DVD-audio nem Super Audio CD (SACD) nem o proclamado Blue-Ray poderão fugir à sombra dos lasers a funcionar num ambiente extremamente instável a uns milímetros do suporte que roda a uma velocidade incrível e com movimentos de oscilação, nem aos mecanismos de correcção de erro (jitter) nem aos conversores digital-analógico (DAC). O facto é que os formatos digitais, embora práticos e com boa qualidade geral de gravação/reprodução, não vão evoluír mais. Já para não falar desse assassino da múscia que é o MP3, verdadeiro talhante de frequências, empilhador de informação...
É opinião geral, nos meios em que se movimentas as pessoas que gostam de música e de sons, que a sonoridade digital é fria, raramente consegue transcrever as subtilezas da música, dar "aquela" emoção às passagens mais dinâmicas, aquele calor à voz ou o timbre certo ao vibrar de uma corda de guitarra.
Falta algo!
Por isso, os audiófilos nunca se entusiasmaram em excesso pela venda dos seus gira-discos e dos LP's antigos quando, em 1983, o CD saíu para o mercado. Mesmo depois da primeira dezena de anos passados, quando a qualidade de gravação dos CD's e de reprodução aumentaram, por via de um refinamento de todo o processo electrónico e mecânico no tratamento do input e do output, os audiófilos abandonaram o vinil. Tinham razão. Assistimos agora ao regresso em glória do bom e velho LP. O formato caseiro que sobreviveu aos outros todos e continua, na medida do possível, a ser o mais acusticamente perfeito, talvez só suplantado pelos gravadores magnéticos profissionais de bobines.


Imagem: célula Sumiko Oyster a fazer a leitura de um LP.

Mas porquê esta resistência toda do vinil? O que faz o vinil ser melhor do que os outros formatos? Até porque deveria estar já morto e enterrado! Senão, vejamos:

Não é mais portátil - um LP é grande, metido num envelope quadradão; não se pode ler num leitor portátil pois um dos princípios mais importantes sobre a leitura do vinil é a estabilidade, a ausência de interferências mecânicas durante a leitura.

É mais frágil - parte com mais facilidade que um CD, suja-se com mais facilidade, risca com uma facilidade incrível, ganha electricidade estática e é passivel de se gastar com o tempo! (principalmente se lido com uma agulha montada num braço mal afinado).

Não é mais universal que um CD - os gira-discos escasseiam, não se encontram por aí à venda em qualquer superfície comercial; os discos idem-aspas; as novas edições que também gravam em vinil são pouquíssimas, se bem que muitas editoras já começaram a entrever um nicho de mercado em reflorescimento.

É mais caro e mais lento gravar em vinil que em CD - a gravação de vinil, ou seja, a prensagem, é um processo algo complexo quando comparado à gravação em série de milhares e milhares de CD's por uma editora; depois, qualquer um de nós grava em casa um CD virgem que custa menos que meio euro.

A boa leitura de vinil, com qualidade de reprodução, depende de uma série de factores difíceis de controlar: a boa qualidade da prensagem da gravação, a estabilidade do gira-discos, a qualidade de construção do gira-discos, o mecanismo de rotação (motor, correia, etc.) em bom estado e a manter um ritmo certissimo, a qualidade e afinação do braço, a inércia do prato, a qualidade e estado da célula e do estilete (a "agulha"), a qualidade e estado dos cabos, a pré-amplificação e amplificação e a tradução mecânica do som (colunas).

Se tudo isto estiver bem, um disco dará anos e anos de prazer de audição sem limites. Pois um disco de vinil é um verdadeiro "master". Nele estão inscritos mecanicamente todos os elementos da Música.

Ouçam e comparem. O próximo post voltará a abordar este assunto.

04 novembro, 2006

Nursery Cryme

A música é intemporal, por isso não faz sentido falar em tarde ou cedo quando se avalia e aprecia uma dada obra. Deixo-vos hoje esta sugestão: o segundo álbum "a sério" dos Genesis, primeiro a contar com a participação do baterista Phil Collins, que viria a completar a mais fantástica formação desta banda britânica, pelo menos até à partida de Peter Gabriel em 1975. Este, aqui, já nos aparece mais misterioso, em registos mais variados e densos, com aquela voz cheia de camadas, de harmónicos, de rugosidade e de eloquência.


Nursery Cryme, Virgin Records, 1971. Tem edição remasterizada de 1994. Tem o clássico "The Musical Box", considerado por muitos o hino que melhor define o espírito do Rock Progressivo. Tem temas como "The Return of the Giant Hogweed" e "Fountain of Salmacis", que parecem piscar o olho ao Heavy Metal, como bisavôs distantes que imaginam o futuro da sua linhagem.

Este disco é o futuro no passado!

29 outubro, 2006

Freak show #6

Freak show #5


O Pavillion Theatre, em Glasgow, vazio!

20 outubro, 2006

Essa boneca...

A Música Popular Brasileira (MPB) está, há largos anos, num processo de transformação que lhe tem dado uma maior frescura e uma acumulação constante de texturas universais.
Um dos porta-estandartes da MPB, Vanessa da Matta, veio recentemente ao Coliseu do Porto, onde ofereceu um concerto interessantíssimo, cheio de vivacidade, harmonia e ritmo.


Desengane-se quem pensar que Vanessa é mais uma cara bonita no panorama musical brasileiro. De facto, é bonita, tem um penteado louco, mas anda nisto da música há muitos anos e de uma forma séria e compenetrada. Nascida em 1975 numa pequena cidade do Mato Grosso, apenas em 2002 editou o seu primeiro álbum, homónimo. O segundo, "Essa Boneca Tem Manual", é de 2004. E o que andou Vanessa a fazer entretanto? A compor! Para nomes como Maria Bethania, Chico César ou Daniela Mercury, e a colaborar com Milton Nascimento e Ana Carolina.

De facto, a sua desenvoltura e simplicidade em palco, deixam transparecer um espírito humilde de uma cantora completa, que vem contrariar o marasmo clássico da MPB em que a menina cantava sempre a música de outro compositor.

A MPB está bem entregue, enfim!

08 outubro, 2006

Freak show #4

Um videoclip indiano estilo Bollywood, com legendas adaptadas em português. Ehehehehehehehehe!

07 outubro, 2006

A Queen of Honey


Demorei muito tempo para apreciar as potencialidades deste álbum. Muito menos do que a Senhora Kate Bush demorou para juntar todas as peças dete belíssimo puzzle musical, desta história mágica que é o seu último trabalho. Deixo, pela primeira vez, todas as restantes considerações ao ouvinte pois considero-me indigno de as tecer.
Apenas adianto que vai soar como o paraíso num bom sistema de som!
(Kate Bush - Aerial (C)2005 EMI)

05 outubro, 2006

Freak show #3


É necessário dizer alguma coisa? Música hispânica no seu melhor. Jose Angel e o seu único sucesso, o single "Madre soy cristiano homosexual". Começa assim: "Madre / no te pongas triste..." Reparem na imagem que vale por mil palavras: a postura de ditador gay, com o relógio estilo Casio dourado, calcinha branca e sapatinho castanho de bico, camisa de nylon estampada, cabelo à porn star e aquele olhar meloso inconfundível. Um clássico do desfile de aberrações musicais de todos os tempos. Procurem a música e oiçam, vale a pena!

25 setembro, 2006

16 julho, 2006

A propósito do calor...



Master Blaster (Jammin')

Everyone's feeling pretty
It's hotter than july
Though the world's full of problems
They couldn't touch us even if they tried
From the park I hear rhythms
Marley's hot on the box
Tonight there will be a party
On the corner at the end of the block

Didn't know you
Would be jammin' until the break of dawn
I bet nobody ever told you that you
Would be jammin' until the break of dawn
You would be jammin' and jammin' and jammin', jam on

They want us to join their fighting
But our answer today
Is to let all our worries
Like the breeze through our fingers slip away
Peace has come to Zimbabwe
Third world's right on the one
Now's the time for celebration'cause we've only just begun

Didn't know that you
Would be jammin' until the break of dawn
Bet you nobody ever told you that you
Would be jammin' until the break of dawn
You would be jammin' and jammin' and jammin', jam on

Bet you nobody ever told you that you
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Would be jammin' until the break of dawn
I know nobody told you that you
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Would be jammin' until the break of dawn
We're jammin', jammin', jammin', jam on

You ask me am i happy
Well as matter of fact
I can say that i'm ecstatic'
cause we all just made a pact
We've agreed to get together
Joined as children in jah
When you're moving in the positive
Your destination is the brightest star

You didn't know that you
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Would be jammin' until the break of dawn
I bet you nobody ever told you that you
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Would be jammin' until the break of dawnOh, oh, oh, oh, oh, you
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Would be jammin' until the break of dawn
Don't you stop the music, oh no,
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Na, na na...
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Nobody told you oh, oh, oh, you
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Would be jammin' until the break of dawn
I bet you if someone approached you
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Yesterday to tell you that you would be jammin'
you would not believe it because you
never thought that you would be jammin'
Oh, oh, oh, oh,
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Jammin' 'til the break of dawn
Oh, oh, oh, you may as well believe what you are feeling
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Because you feel your body jammin'
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')
Oh, oh, you would be jammin' until the break of dawn
(we're in the middle of the makin's of the master blaster jammin')

07 julho, 2006

Videos do Heino

A pedido de várias famílias, aqui está um vídeo do Heino:

25 junho, 2006

Freak Show #2

Ele é o Elvis alemão, como alguém já disse. Ou o Roberto Leal da Baviera... enfim...
A sua voz grave, a forma quase hitleriana como pronuncia os RR's, os seus sucessos na música popular alemã, a sua postura hirta, segurando o microfone contra o peito, e os seus óculos escuros sempre presentes, fazem deste músico um dos meus favoritos do género.

É o grande, grande Heino!

Êxitos como Schwarze Barbara ou Blau Blüht Der Enzian fazem as delícias de qualquer apreciadora da música popular alemã (que, aliás, é uma das mais pimba do Mundo, talvez só ultrapassada pela polaca).

E as capas dos seus discos são simplesmente, fabulosas! Em cima, um dos clássicos do género pimba, o Amor de Mãe. Veja-se as rosas vermelhas e a expressão carinhosa na cara do Heino.

O amor do seu caniche também parece ser importante para Heino. É de partir o coração!


Mas reparem que o artista parece estar mais contente com o cão do que com a mãe. Pudera! Anda uma mãe a criar um filho para isto, como é que não haveria ressentimento? Aquele olhar distante sobre o ramo de rosas vermelhas (numa clarissima alusão a José Malhoa) como que a dizer - "olha o que fizeste de mim, sua matrona pindérica!" não tem preço.

Freak Show #1

Frank Zappa perguntou, retoricamente, numa das fases da sua prolífica carreira, se o humor tinha lugar na musica (Does Humor Belong in Music?). Eu digo que sim, porque só alguém muito bem humorado conseguirá compreender, de uma forma honesta, o que se passa aqui nesta série de posts da secção Frak Show deste blog.
Os primeiros a desfilar são, nada mais nada menos, que um coro de, imagine-se! - laringectomizados!

Isto equivale a um primeiro lugar dos paraolímpicos, mas na música! É louvável que as pessoas que não têm laringe não deixem, só por isso, de cantar! E deve dar um efeito bonito! Parabéns aos laringectomizados de Espanha!

17 maio, 2006

Estranho


É estranho porque pela primeira vez falo de algo novo neste blog. Mas o mais estranho ainda está para vir.
Quando vi o excelente filme de Wes Anderson, The Life Aquatic With Steve Zissou (título pessimamamente traduzido para português: Um Peixe Fora de Água), pensava que á ver uma rábula às aventuras de Costeau. De facto, estão lá os principais ingredientes, desde o velho barco de guerra convertido em navio científico, os barretes vermelhos que toda a tripulação usa, o look late 70's ou early 80's... Mas o filme é tudo menos hilariante. É mais um filme sobre a vida, com alguns takes de rara beleza, do que uma comédia. Bem ao estilo que Anderson nos tinha habituado com The Royal Tannenbaums.
O mais bizarro do filme é o papel desempenhado pelo músico/actor Seu Jorge, que já nos tinha brindado com uma excelente interpretação de Mané Galinha no Cidade de Deus, e que aqui aparece como um brasileiro especialista em segurança da tripulação de Zissou, e que surge na maior parte das cenas a interpretar músicas de David Bowie cantadas em português, no estilo descontraidissimo que o caracteriza. Pensei logo que seria engraçado ter a banda sonora do filme com aquelas músicas de Bowie, vestidas de novo e com aquele tom tropicalista. E estão lá, no OST do filme (The Life Aquatic With Steve Zissou OST, Hollywood 2005), juntamente com algumas pérolas instrumentais que dão o ambiente indiscritível às cenas de Wes Anderson. Mas não ficam por aqui...
Seu Jorge edita em nome próprio todas as músicas que tocou no filme e mais algumas, no seu álbum The Life Aquatic Studio Sessions (Hollywood 2005).
O próprio Bowie diz que as suas músicas ganharam rara beleza interpretadas por Seu Jorge.

25 abril, 2006

10.000 Anos Depois

Qual é o músico português com maior projecção internacional? Ou, posto de outra forma, que músico português tem mais sites a referenciar o seu trabalho que qualquer outro? Mesmo que a Amália. Inclusivamente no Japão. Mais: que músico português viu um dos seus albuns listado no top 100 dos melhores discos de sempre de um determinado género musical? Que disco de um músico português, na sua edição original em vinil, é considerado uma raridade preciosíssima por esse Mundo fora, podendo atingir preços superiores a 1000 euros em leilão?
A resposta é surpreendente; desconcertante, até: José Cid!
E o disco é o "10.000 anos depois, entre Vénus e Marte" (1977/78, Orfeu/Edição Arnaldo Trindade).




Paremos o tempo em 1978. Não vale a pena olhar para trás, para o Cid do quarteto 1111 (considerado um dos primeiros grupos rock portugueses) nem para a frente, para os macacos, as bananas e as cabanas junto à praia. Apenas para aquele ano e para aquele trabalho:
A tendência musical, na altura, andava ávida de ABBA e BeeGees, disco-sound e lantejoulas. O Festival RTP da Canção ainda dava cartas em termos de definição de gostos - ainda era o evento musical do ano. Poucos eram os que se atreviam a fazer algo de novo, de diferente, a custo de se tornarem muito impopulares (lembram-se do post sobre os Gentle Giant?). José Cid quis, apenas, dar uso aos seus grandes dotes de teclista, à sua panóplia de teclados e ao seu talento de compositor. Juntou-se a Zé Nabo (baixo, guitarra acústica, guitarra solo e 12 cordas), Mike Sergeant (guitarra solo e 12 cordas) e Ramon Gallarza (bateria, percussão) e gravou aquele incrível album conceptual sobre a destruição do Planeta Terra por guerras nucleares e poluição, e a fuga para o espaço, numa nave, de um Adão e uma Eva futuristas, que regressavam 10.000 anos depois a uma Terra renovada pela ausência da pressão humana sobre o ambiente. Cid conta esta história ser recorrer a muita letra, apenas a essencial, e com a ajuda das ilustrações do interior do sleeve do disco, a cargo de uma enigmática Isabel. Mas serve-se de uma forma magistral da sua música, da sua melodia, dos seus incríveis teclados e sintetizadores. Entre estes, há Moog, Mellotron, String Ensemble... you name it! (uma das músicas chama-se mesmo Mellotron O Planeta Fantástico!). Há riffs de guitarra incríveis, apoiados numa linha de baixo consistente e assustadoramente melódica e numa bateria ritmicamente irepreensível. Tudo isto embrulhado dá um resultado sonoro final que, apesar de alguma falta de brilho em alguns registos, parece de outro mundo - e é!. É verdadeiro Rock Progressivo, com toda a carga sinfónica e toda a mestria que isso implica.
Contudo, foi um flop enorme na carreira de José Cid. Ninguém queria editar uma obra tão complexa. Face a isto, num gesto de grande altruísmo pela Música, José Cid prescindiu dos direitos para a editora, permitindo assim a edição, embora numa tiragem bastante limitada. As vendas foram fraquíssimas. Não havia público para "aquela coisa" em Portugal. Fosse Cid americano ou inglês e teria sido catapultado para a fama num ápice.
Torna-se agora claro que em Portugal um músico só pode sobrevivier da sua arte se a popularizar ao encontro da espectativa da generalização. Foi o que fez daí em diante o nosso Elton John lusitano, tornando-se um habituée do Festival RTP e brindando o seu público com macacos, bananas e cabanas junto à praia.
Gostava de falar com ele, saber o que é feito do Mellotron e do Moog e de todos aqueles teclados vintage: se ainda os toca em segredo, a medo de ser repreendido por tamanho desplante, ou se os pôs a servir de mangedoura no seu estábulo. Enquanto não o faço, vou-me deleitando com o luxo enorme de descer a agulha do meu gira-discos sobre um círculo de plástico raríssimo, valiosíssimo, e de sentir todo aquele som a saír dos grooves como se fosse uma nave espacial a descolar rumo ao infinito.

01 abril, 2006

1 de Abril


É dia das mentiras, mas o que se passou foi mesmo verdade: em 1966 saíu a público a notícia que o Beatle Paul McCartney tinha morrido num tragico acidente de automóvel e que tinha sido substituído por um duplo, de nome William Shears Campbell (o Billy Shears do Sgt. Pepper's)!
Quem pensar que estou a fazer uma partida de 1 de Abril extremamente redundante, que tome a liberdade de ler a Wikipedia e vai ver que não estou a mentir.
Aparentemente, esta teoria da conspiração do Paul Is Dead tem uma legião de seguidores que encontraram inúmeras pistas na própria música e comportamento dos Beatles que sugere que isso realmente teria acontecido. É incrivel a quantidade de simbolismo que estas pessoas conseguiram vislumbrar nas capas dos albuns dos Fab Four - só a do Sgt. Pepper's tem inumeros sinais que demonstram que os restantes três elementos da banda queriam fazer passar a mensagem de que McCartney tinha realmente morrido.
Um excerto da Wikipedia sobre a capa do Sgt. Pepper's Lonely Herts Club Band:
«McCartney is the only person holding a wooden instrument, representing his coffin, and the instrument is the only one that is black, representing death. The instrument itself is a cor anglais, which is the only instrument shown on the cover which is not used in a marching band. Paul's "true" instrument would have been the tuba, which is sitting unused at feet of the wax figure of Ringo. Paul is the only Beatle wearing a "cool" color (blue), while the other three Beatles are all wearing warm colors. It also appears like he's being propped up by Ringo Starr and Harrison, as if rigor mortis had set in. McCartney is the only person with a hand over his head, a religious symbol for blessing the dead. The hand belongs to Stephen Crane, an American writer who died at the age of 28. Paul is taller than John and George, possibly indicating that it is possibly 'the replacement' in the photo, as Paul, John, and George are the same height.»
Entretanto, e aproveitando a deixa, o Sgt. Pepper's (EMI / Apple, 1967) é um album excelente, obrigatório, que merece ser ouvido com atenção. E sim, isto ainda é verdade!

30 março, 2006

Adquirir o gosto


Aqui não há concessões: a verdadeira arte do apreciador é a aprendizagem. É preciso aprender a gostar, e para isso, é necessário algum esforço e alguma concentração. Quando nos é dado a ouvir algo que exige ainda mais de nós, o risco para o artista é enorme. Os Gentle Giant, grupo britânico de rock progressivo, dispuseram-se a correr esse risco quando editaram um conjunto de álbuns – 12 entre 1970 e 1980 - de música considerada eclética.
O álbum que vos trago hoje é, não só aquele que pode ser uma introdução para a música desta excelente banda, muito pela força do título – Acquiring the Taste – como também aquele em que os elementos da banda assumem literalmente esse risco, como se pode ler no disclaimer:

“É o nosso objectivo expandir as fronteiras da música popular contemporânea, sob o risco de nos tornarmos muito impopulares. Gravámos cada composição com um pensamento – que deveria ser única, aventureira e fascinante. Para o conseguir, foi necessário cada fragmento dos nossos conhecimentos técnicos e musicais combinados. (traduzido)”

E isto é verdadeiro: os músicos desta banda tocam, entre todos, cerca de 30 instrumentos, frequentemente trocando de instrumento durante os concertos, e cinco dos elementos cantam!
Para os ver ao vivo, só em vídeo. Existe um DVD oficial – Giant on The Box (2004) – que reporta raras aparições da banda em programas televisivos e entrevistas.
Se o prezado leitor se quiser envolver no caminho sem retorno da aquisição do gosto por esta música, pode também experimentar outras excelentes obras do grupo, como o Octopus (1972), In a Glass House (1973) ou The Power and the Glory (1974).
O Acquiring the Taste (1971) existe em LP e CD da Phonogram / Vertigo / PolyGram, e a qualidade sonora é muito boa.

21 março, 2006

Um pouquinho mais...

.

"This is the end of men's long union with earth"

"Why don't you touch me?"

"You yourself are just the same / As what you see in me"

16 março, 2006

The Musical Box


Admito não ser a mesma coisa. Nem de perto nem de longe. Mas apenas o melhor a que se pode aspirar, para quem não viu o original. No meu caso, não vi o original porque não era nascido. E este original é, nada mais nada menos que o primeiro grande concerto rock realizado em terras lusas, em 6 e 7 de Março de 1975 no pavilhão do Dramático de Cascais, sobre o qual a revista Cais de Março de 2005 fez uma excelente retrospectiva. Estou a falar dos Genesis, de Tony Banks, Michael Rutherford, Peter Gabriel, Steve Hackett e Phil Collins. Falo do seu album The Lamb Lies Down on Broadway, o canto do cisne da fase dos Genesis com Peter Gabriel, que anunciou aqui mesmo, em Portugal, a intenção de abandonar o grupo no final da digressão europeia. Estou a falar também da sua banda oficial de tributo - The Musical Box - e do concerto que deram no passado dia 11 de Março no Europarque de Santa Maria da Feira, ao qual fui orgulhosamente assistir.
Pondo de parte o anacronismo e a genética, o concerto foi igual ao album, igual ao espírito dos Genesis, emotivamente igual. O anacronismo porque passaram mais de 30 anos desde o último concerto da The Lamb Tour, e porque a sala estava cheia de quarentões e cinquentões. A genética, porque não eram os Genesis em palco, mas sim a fantástica banda canadiana que voltou a dar vida a todas as músicas do The Lamb e, em encore, tocou ainda o Musical Box e o Watcher of the Skies.
Aprendi ali que fazer tributo é a arte da verdadeira homenagem - a imitação - e que esta só se consegue pela resolução de todos os pormenores, por mínimos que sejam. Desde o hábito que Peter Gabriel ainda hoje tem de introduzir as músicas contando-lhes a história, com o seu muito britânico sentido de humor, até à concentração de Hackett, o atinadinho da banda, passando pelo antagonismo divertido de Collins, agradecendo, no final, que a audiência tivesse permanecido acordada (pronúncio do conflito já evidente no seio do conjunto).
Os próprios instrumentos utilizados pelos músicos são ou vintage, ou imitações perfeitas dos originais, feitas por encomenda, como a estranha guitarra de dois braços de Rutherford, com um baixo barítono de 6 cordas num braço e uma guitarra semi-acústica de 12 cordas no outro. Até os slides que passam em fundo são os originais da digressão dos Genesis.
Ao leitor, aconselho vivamente uma viagem pelos primeiros albuns dos Genesis, da era Gabriel, desde o Trespass até ao The Lamb, passando obrigatoriamente pelos Nursery Cryme, Foxtrot e o Selling England by the Pound.
Para o ano, os flyers prometem o regresso deste excelente conjunto de tributo, na sua derradeira digressão, desta vez com a Selling England Tour. Lá nos encontramos.

03 março, 2006

Eu... vou ali e ja venho!

Quando Pedro Abrunhosa lançou o "Viagens" em 1994, alcançou um nicho estreito mas sortudo de sucesso no panorama comercial da música portuguesa. O album era e continua a ser um bom trabalho de fusão, a piscar o olho ao Acid Jazz, ao BeeBop, ao HipHop e ao Funk, com o irrepreensível saxofone de Maceo Parker. Muito expontâneo, muito "cool". As próprias baladas são coerentes e a melodia é bem trabalhada. Vê-se que foi um trabalho despreocupado de um músico com muita formação, que estava longe de imaginar o sucesso que iria alcançar.
Daí para cá, foi sempre a descer. Falta de inspiração? Não!
Sempre disse e continuo a dizer que o grande defeito de Pedro Abrunhosa é o perfeccionismo. E que esse perfeccionismo tem aumentado continuamente desde o "Viagens", resultando agora na sua obra mais "perfeita" de sempre, em que o artista se libertou completamente do peso de enfiar muitas notas numa música, ou de escrever um refrão com mais de um verso: o "Eu estou aqui".
A musiquinha é, claro está, incompreendida por nós, que somos ignorantes na matéria. Abrunhosa, pelo contrário, está muito à frente do seu tempo, pois sabe que as músicas com dois acordes são, inquestionavelmente, o futuro da música em todo o Mundo. E mais! - que fazer músicas de propósito para publicitar bancos é, realmente, o corolário do seu trabalho. Daí a perfeição!
Pedro, se me estiveres a ler, por favor, liberta-te do estigma da perfeição! Volta a fazer cenas "cool". Deixa de cantar e volta a dar "aquele" Ritmo Às Palavras que fazes tão bem! Senta-te um pouco e pensa, enquanto ouves Dizzy Gillespie, que não há nada melhor no Mundo que fazer a tua cena como te vem na altura.
Até porque o País precisa de ti em grande forma, pá: o Cavaco voltou!

21 fevereiro, 2006

Achtung, Baby!

Não estou aqui para enganar ninguém: eu não gostava de U2 nos anos 80. Achava a música um tanto ou quanto banal, sem trazer nada de novo ou diferente... estava errado!
Mas comecei a gostar a partir de 1991. E porquê? Porque, em analogia com o que aconteceu aos Beatles com Sgt. Pepper's, os U2 lançaram um album paradigmático: Achtung Baby.
E como os Beatles, que antes de 67 eram excelentes, e depois ficaram muito melhores, os U2 romperam com o passado e introduziram uma estética completamente nova.
A inspiração surgiu algures entre Marrocos e Berlim, e isso nota-se em todo o album, com sonoridades orientais principalmente na percussão, como se ouve em Mysterious Ways, e ambientes sombrios e austeros da Alemanha recém reunificada. É um dos meus albuns preferidos de todos os tempos. E está cheio de verdades, como "A man will rise / a man will fall / from the shear face of love / like a fly from the wall" ou " a woman needs a man / like a fish needs a bicicle". Tem o incomparável One e o patético/apocalíptico Until the End of the World. Tem tudo.
E existe numa forma muito simples: LP ou CD da Island Records, 1991. Ouçam e/ou reouçam.

19 fevereiro, 2006

Júlio Pereira

Tenho vindo a redescobrir, através da sua obra, um dos mais importantes investigadores da música tradicional, e um dos mais criativos instrumentistas, arranjistas e compositores que alguma vez pisaram terras lusas.
Trata-se de Júlio Pereira, na foto com José Afonso em 1980.


Multi-instrumentista, começou no rock por alturas dos anos 60, e o seu último trabalho, Faz de Conta, é principalmente para crianças. Pelo meio, andou a recuperar sonoridades instrumentais bastante ostracisadas, das quais os albuns Cavaquinho, Braguesa e O Meu Bandolim são os melhores exemplos.
Participou num sem-número de albuns de outros músicos, nacionais ou internacionais, como Fausto, Zeca Afonso ou os Chieftains, ou mais recentemente, no Balancê, de Sara Tavares.
Tem 15 discos editados em nome próprio. Vale a pena passar os ouvidos pelo trabalho de um dos melhores músicos que Portugal pariu.

16 fevereiro, 2006

New Orleans Funk

Para quem estiver interessado em saber, ou melhor, ouvir mais sobre o post anterior, recomendo este album, que é uma antologia das raízes do Funk em Nova Orleães. Estes músicos inspiraram outros tão diversificados como James Brown, Prince ou Red Hot Chili Peppers.
Precaução: para quem ouvir este album, recomenda-se cuidado com os movimentos corporais - este tipo de música tem uma força anímica tão grande que vai ser impossível manter alguma parte do corpo quieta!
Existe editado em CD da editora Soul Jazz Records com o código SJR CD47, e não vai ser muito difícil encontrar numa FNAC, embora muito provavelmente só por encomenda. Mas vale a pena. O som é óptimo e vem em caixa com um livrinho de 40 páginas com toda a história.

15 fevereiro, 2006

Liberdade

A história da música está repleta de rupturas e de continuidades, onde as influências, pela positiva ou pela negativa, assumem importância fundamental, embora às vezes seja extremamente difícil seguir o rasto daquilo que está na génese de um determinado tipo de música.
A bela Nova Orleães, recentemente devastada pelas tempestades, sempre foi um local de confluência de culturas diversas, as quais uniram as suas musicalidades para formar algo de completamente novo. Por ter sido uma colónia francesa, aos seus escravos era permitido que se reunissem, trocassem e dançassem nos seus momentos de folga, o que nos outros estados americanos era proibido, fruto da rigidez anglicana.
Daí que esta cidade do Sul dos Estados Unidos da América sempre foi uma das mais musicais do Mundo. Foi lá que nasceu o Blues, forma de música que viria a perfilhar todas as outras que actualmente fazem parte do universo dito pop/rock, assim como o Jazz ou a Soul.
O Funk também teve origem em Nova Orleães, com grandes músicos como o Professor Longhair, um velho encorcovado que tocava piano com três dedos e batia o ritmo com pontapés na caixa do dito, ou os fabulosos The Meters, que fizeram sucesso impressionante.
Os ritmos sincopados do Funk, com clara influência africana, atravessaram, nos anos 50 e 60, o Golfo do México e chegaram às Caraíbas, em ondas rádio, influenciando músicos Jamaicanos, que reafricanizaram ainda mais a música, criando o Ska e o Roots, que viriam, anos depois, a originar o Reggae.
A liberdade, a sua existência ou a sua demanda, revelaram-se sempre fundamentais no acto criativo, na construção e desconstrução artística. Muitas das expressões musicais mais comuns que conhecemos hoje não existiriam se, aos negros de Nova Orleães, não tivesse sido permitido tocarem os seus batuques e dançarem nas poucas horas de descanso que lhes davam o algodão e a cana-de-açúcar.

08 fevereiro, 2006

É preciso ter olho para o negócio

Nos idos de '70, um miudo compôs uma sinfonia e tentou edita-la. Bateu a muitas portas e a resposta foi sempre a mesma: uma recusa terminante em gravar um tema completamente instrumental, e cheio de sonoridades estranhas. Quando estava a baixar os braços, apareceu outro miudo, dono de uma lojita de discos e que tinha começado a construir uma editora pequenina, caseira, que acreditou no trabalho do primeiro e resolveu, enfim, edita-lo. Resultado: ficaram, os dois, podres de ricos.
O primeiro miudo chama-se Mike Oldfield. O segundo, Richard Branson. O disco, Tubular Bells e a editora, Virgin.
De facto, Mike Oldfield foi o primeiro músico a assinar pela Virgin, em 1973. Passado pouquissimo tempo, Tubular Bells vendia como amendoíns, e a Virgin começava a editar os músicos e bandas mais "quentes" do panorama britânico dos anos 70.
Hoje, Sir Richard Branson, agraciado pela Rainha com o título de Cavaleiro, é um dos homens mais ricos da Europa e dono da original companhia aérea Virgin Atlantic.
Mike Oldfield continua a compôr, hoje mais para apreciadores, mas nos seus concertos não dispensa ainda passagens do velhinho Tubular Bells, que é uma obra admirável e resistente à erosão do tempo. Foi tema de banda sonora do Exorcista e há toques de telemóvel com o início da primeira parte. Já la vão mais de 35 anos.

06 fevereiro, 2006

Droga de música... ou música de droga?

Um investigador da Faculdade de Psicologia do Porto afirma haver uma íntima relação entre diversos tipos de música com consumos de tipos de drogas. Referiu, como exemplo, as ligações Techno-Extasy ou Trance-Alucinogéneos.
Pergunto-me se aquilo de que se fala é mesmo música ou será um ambiente criado com recurso a muito pouca imaginação, conhecimento musical e suor, com o intuito de ajudar um negócio obscuro de milhões, que é a exploração da ignorância e da carneirice dos miudos pastilhentos.
No ano em que se comemoram os 250 anos do nascimento de Mozart, há que distinguir de uma vez por todas o que é música do que é artifício. Porque aqueles estilos de "música" não nascem de uma creatividade talentosa, treinada ou disciplinada. Não nascem do conceito de melodia nem de harmonia. Não existe quase nada de composição. São apenas a junção mais ou menos casual de partes pré-programadas.
Perdoem-me aqueles que investem neste tipo de música, ou que nela se tentam inspirar. Perdoem-me aqueles que, de uma forma mais meritória, tentam pegar neste tipo de música e construír algo de novo e válido.
Perdoem-me a intolerância nestas questões, mas não é uma questão de gostos, e sim uma questão social muito mais abrangente.
Música é cultura. Chamar música ao que não é, é anti-cultura. É a pura promoção da ignorância. Por sua vez, a ignorância afecta a facilidade de exploração do homem pelo homem.
Se as drogas têm uma ligação com a música, tal como têm com todas as artes, procuremo-la, por exemplo, no Lucy in the Sky with Diamonds (LSD) dos Beatles, ou na biografia de Jim Morrison, nas viagens alucinantes pelos intrumentos de Miles Davis, John Coltrane... Ou talvez ainda com a coincidência do apelo à destruição feito pelo Punk no final dos anos 70 com o crescimento da heroinomania. Os exemplos são infindáveis.
Porque de resto, não se fala de arte, mas de negócio. E dos sujos.

05 fevereiro, 2006

Ziggy Stardust

A importância de um album é sempre relativa à época, à conjuntura social que se vive numa dada altura. Há, por isso, obras que se esgotam rapidamente na sobreexploração desse contexto e outras que perduram no tempo e registam o nome do seu autor na imortalidade. Um pequeno exemplo é o que aqui trago hoje.
De seu nome completo "The Rise and Fall off Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", mas conhecido e reconhecido apenas como Ziggy Stardust, é uma obra maior de um David Bowie ainda algo inocente mas já explorador da multiplicidade de estilos e texturas que sempre construiram a sua música.
É um album conceptual, que cruza o universo das estórias do Rock'n'Roll com uma temática muito em voga nos anos 70: a exploração espacial, e que aliás já tinha vindo do último trabalho de David Bowie, o Space Oddity. Mas no caso do Ziggy, o conceito acompanha todo o album, enquanto que no Space Oddity está mais fragmentado.
A linha melódica utilizada por Bowie é extremamente forte, afirmativa e ao mesmo tempo, subtilmente original. Temas como os singles Starman e o mais conhecido Ziggy Stardust têm uma força invulgar. Para ouvir sem preconceitos. Os sintetizadores em Moonage Daydream são deliciosos e o It Ain't Easy faz lembrar vividamente Led Zeppelin. Mais um exemplo de como com Bowie cada música é uma surpresa. Daí ser chamado de Camaleão.
O album foi editado originalmente em LP em 1972 e reeditado para CD em 1990. Actualmente no mercado podem-se encontrar as remasterizações digitais feitas em 2002. Tem edição em SuperAudioCD, de 2003.

1º andamento

Abro aqui o meu tema favorito: a música. Serve este espaço para expressar as minhas opiniões sobre o mundo da música e para partilhar as minhas experiências auditivas. Aguardem notícias.