15 fevereiro, 2006

Liberdade

A história da música está repleta de rupturas e de continuidades, onde as influências, pela positiva ou pela negativa, assumem importância fundamental, embora às vezes seja extremamente difícil seguir o rasto daquilo que está na génese de um determinado tipo de música.
A bela Nova Orleães, recentemente devastada pelas tempestades, sempre foi um local de confluência de culturas diversas, as quais uniram as suas musicalidades para formar algo de completamente novo. Por ter sido uma colónia francesa, aos seus escravos era permitido que se reunissem, trocassem e dançassem nos seus momentos de folga, o que nos outros estados americanos era proibido, fruto da rigidez anglicana.
Daí que esta cidade do Sul dos Estados Unidos da América sempre foi uma das mais musicais do Mundo. Foi lá que nasceu o Blues, forma de música que viria a perfilhar todas as outras que actualmente fazem parte do universo dito pop/rock, assim como o Jazz ou a Soul.
O Funk também teve origem em Nova Orleães, com grandes músicos como o Professor Longhair, um velho encorcovado que tocava piano com três dedos e batia o ritmo com pontapés na caixa do dito, ou os fabulosos The Meters, que fizeram sucesso impressionante.
Os ritmos sincopados do Funk, com clara influência africana, atravessaram, nos anos 50 e 60, o Golfo do México e chegaram às Caraíbas, em ondas rádio, influenciando músicos Jamaicanos, que reafricanizaram ainda mais a música, criando o Ska e o Roots, que viriam, anos depois, a originar o Reggae.
A liberdade, a sua existência ou a sua demanda, revelaram-se sempre fundamentais no acto criativo, na construção e desconstrução artística. Muitas das expressões musicais mais comuns que conhecemos hoje não existiriam se, aos negros de Nova Orleães, não tivesse sido permitido tocarem os seus batuques e dançarem nas poucas horas de descanso que lhes davam o algodão e a cana-de-açúcar.

1 comentário:

Anónimo disse...

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