21 fevereiro, 2006

Achtung, Baby!

Não estou aqui para enganar ninguém: eu não gostava de U2 nos anos 80. Achava a música um tanto ou quanto banal, sem trazer nada de novo ou diferente... estava errado!
Mas comecei a gostar a partir de 1991. E porquê? Porque, em analogia com o que aconteceu aos Beatles com Sgt. Pepper's, os U2 lançaram um album paradigmático: Achtung Baby.
E como os Beatles, que antes de 67 eram excelentes, e depois ficaram muito melhores, os U2 romperam com o passado e introduziram uma estética completamente nova.
A inspiração surgiu algures entre Marrocos e Berlim, e isso nota-se em todo o album, com sonoridades orientais principalmente na percussão, como se ouve em Mysterious Ways, e ambientes sombrios e austeros da Alemanha recém reunificada. É um dos meus albuns preferidos de todos os tempos. E está cheio de verdades, como "A man will rise / a man will fall / from the shear face of love / like a fly from the wall" ou " a woman needs a man / like a fish needs a bicicle". Tem o incomparável One e o patético/apocalíptico Until the End of the World. Tem tudo.
E existe numa forma muito simples: LP ou CD da Island Records, 1991. Ouçam e/ou reouçam.

19 fevereiro, 2006

Júlio Pereira

Tenho vindo a redescobrir, através da sua obra, um dos mais importantes investigadores da música tradicional, e um dos mais criativos instrumentistas, arranjistas e compositores que alguma vez pisaram terras lusas.
Trata-se de Júlio Pereira, na foto com José Afonso em 1980.


Multi-instrumentista, começou no rock por alturas dos anos 60, e o seu último trabalho, Faz de Conta, é principalmente para crianças. Pelo meio, andou a recuperar sonoridades instrumentais bastante ostracisadas, das quais os albuns Cavaquinho, Braguesa e O Meu Bandolim são os melhores exemplos.
Participou num sem-número de albuns de outros músicos, nacionais ou internacionais, como Fausto, Zeca Afonso ou os Chieftains, ou mais recentemente, no Balancê, de Sara Tavares.
Tem 15 discos editados em nome próprio. Vale a pena passar os ouvidos pelo trabalho de um dos melhores músicos que Portugal pariu.

16 fevereiro, 2006

New Orleans Funk

Para quem estiver interessado em saber, ou melhor, ouvir mais sobre o post anterior, recomendo este album, que é uma antologia das raízes do Funk em Nova Orleães. Estes músicos inspiraram outros tão diversificados como James Brown, Prince ou Red Hot Chili Peppers.
Precaução: para quem ouvir este album, recomenda-se cuidado com os movimentos corporais - este tipo de música tem uma força anímica tão grande que vai ser impossível manter alguma parte do corpo quieta!
Existe editado em CD da editora Soul Jazz Records com o código SJR CD47, e não vai ser muito difícil encontrar numa FNAC, embora muito provavelmente só por encomenda. Mas vale a pena. O som é óptimo e vem em caixa com um livrinho de 40 páginas com toda a história.

15 fevereiro, 2006

Liberdade

A história da música está repleta de rupturas e de continuidades, onde as influências, pela positiva ou pela negativa, assumem importância fundamental, embora às vezes seja extremamente difícil seguir o rasto daquilo que está na génese de um determinado tipo de música.
A bela Nova Orleães, recentemente devastada pelas tempestades, sempre foi um local de confluência de culturas diversas, as quais uniram as suas musicalidades para formar algo de completamente novo. Por ter sido uma colónia francesa, aos seus escravos era permitido que se reunissem, trocassem e dançassem nos seus momentos de folga, o que nos outros estados americanos era proibido, fruto da rigidez anglicana.
Daí que esta cidade do Sul dos Estados Unidos da América sempre foi uma das mais musicais do Mundo. Foi lá que nasceu o Blues, forma de música que viria a perfilhar todas as outras que actualmente fazem parte do universo dito pop/rock, assim como o Jazz ou a Soul.
O Funk também teve origem em Nova Orleães, com grandes músicos como o Professor Longhair, um velho encorcovado que tocava piano com três dedos e batia o ritmo com pontapés na caixa do dito, ou os fabulosos The Meters, que fizeram sucesso impressionante.
Os ritmos sincopados do Funk, com clara influência africana, atravessaram, nos anos 50 e 60, o Golfo do México e chegaram às Caraíbas, em ondas rádio, influenciando músicos Jamaicanos, que reafricanizaram ainda mais a música, criando o Ska e o Roots, que viriam, anos depois, a originar o Reggae.
A liberdade, a sua existência ou a sua demanda, revelaram-se sempre fundamentais no acto criativo, na construção e desconstrução artística. Muitas das expressões musicais mais comuns que conhecemos hoje não existiriam se, aos negros de Nova Orleães, não tivesse sido permitido tocarem os seus batuques e dançarem nas poucas horas de descanso que lhes davam o algodão e a cana-de-açúcar.

08 fevereiro, 2006

É preciso ter olho para o negócio

Nos idos de '70, um miudo compôs uma sinfonia e tentou edita-la. Bateu a muitas portas e a resposta foi sempre a mesma: uma recusa terminante em gravar um tema completamente instrumental, e cheio de sonoridades estranhas. Quando estava a baixar os braços, apareceu outro miudo, dono de uma lojita de discos e que tinha começado a construir uma editora pequenina, caseira, que acreditou no trabalho do primeiro e resolveu, enfim, edita-lo. Resultado: ficaram, os dois, podres de ricos.
O primeiro miudo chama-se Mike Oldfield. O segundo, Richard Branson. O disco, Tubular Bells e a editora, Virgin.
De facto, Mike Oldfield foi o primeiro músico a assinar pela Virgin, em 1973. Passado pouquissimo tempo, Tubular Bells vendia como amendoíns, e a Virgin começava a editar os músicos e bandas mais "quentes" do panorama britânico dos anos 70.
Hoje, Sir Richard Branson, agraciado pela Rainha com o título de Cavaleiro, é um dos homens mais ricos da Europa e dono da original companhia aérea Virgin Atlantic.
Mike Oldfield continua a compôr, hoje mais para apreciadores, mas nos seus concertos não dispensa ainda passagens do velhinho Tubular Bells, que é uma obra admirável e resistente à erosão do tempo. Foi tema de banda sonora do Exorcista e há toques de telemóvel com o início da primeira parte. Já la vão mais de 35 anos.

06 fevereiro, 2006

Droga de música... ou música de droga?

Um investigador da Faculdade de Psicologia do Porto afirma haver uma íntima relação entre diversos tipos de música com consumos de tipos de drogas. Referiu, como exemplo, as ligações Techno-Extasy ou Trance-Alucinogéneos.
Pergunto-me se aquilo de que se fala é mesmo música ou será um ambiente criado com recurso a muito pouca imaginação, conhecimento musical e suor, com o intuito de ajudar um negócio obscuro de milhões, que é a exploração da ignorância e da carneirice dos miudos pastilhentos.
No ano em que se comemoram os 250 anos do nascimento de Mozart, há que distinguir de uma vez por todas o que é música do que é artifício. Porque aqueles estilos de "música" não nascem de uma creatividade talentosa, treinada ou disciplinada. Não nascem do conceito de melodia nem de harmonia. Não existe quase nada de composição. São apenas a junção mais ou menos casual de partes pré-programadas.
Perdoem-me aqueles que investem neste tipo de música, ou que nela se tentam inspirar. Perdoem-me aqueles que, de uma forma mais meritória, tentam pegar neste tipo de música e construír algo de novo e válido.
Perdoem-me a intolerância nestas questões, mas não é uma questão de gostos, e sim uma questão social muito mais abrangente.
Música é cultura. Chamar música ao que não é, é anti-cultura. É a pura promoção da ignorância. Por sua vez, a ignorância afecta a facilidade de exploração do homem pelo homem.
Se as drogas têm uma ligação com a música, tal como têm com todas as artes, procuremo-la, por exemplo, no Lucy in the Sky with Diamonds (LSD) dos Beatles, ou na biografia de Jim Morrison, nas viagens alucinantes pelos intrumentos de Miles Davis, John Coltrane... Ou talvez ainda com a coincidência do apelo à destruição feito pelo Punk no final dos anos 70 com o crescimento da heroinomania. Os exemplos são infindáveis.
Porque de resto, não se fala de arte, mas de negócio. E dos sujos.

05 fevereiro, 2006

Ziggy Stardust

A importância de um album é sempre relativa à época, à conjuntura social que se vive numa dada altura. Há, por isso, obras que se esgotam rapidamente na sobreexploração desse contexto e outras que perduram no tempo e registam o nome do seu autor na imortalidade. Um pequeno exemplo é o que aqui trago hoje.
De seu nome completo "The Rise and Fall off Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", mas conhecido e reconhecido apenas como Ziggy Stardust, é uma obra maior de um David Bowie ainda algo inocente mas já explorador da multiplicidade de estilos e texturas que sempre construiram a sua música.
É um album conceptual, que cruza o universo das estórias do Rock'n'Roll com uma temática muito em voga nos anos 70: a exploração espacial, e que aliás já tinha vindo do último trabalho de David Bowie, o Space Oddity. Mas no caso do Ziggy, o conceito acompanha todo o album, enquanto que no Space Oddity está mais fragmentado.
A linha melódica utilizada por Bowie é extremamente forte, afirmativa e ao mesmo tempo, subtilmente original. Temas como os singles Starman e o mais conhecido Ziggy Stardust têm uma força invulgar. Para ouvir sem preconceitos. Os sintetizadores em Moonage Daydream são deliciosos e o It Ain't Easy faz lembrar vividamente Led Zeppelin. Mais um exemplo de como com Bowie cada música é uma surpresa. Daí ser chamado de Camaleão.
O album foi editado originalmente em LP em 1972 e reeditado para CD em 1990. Actualmente no mercado podem-se encontrar as remasterizações digitais feitas em 2002. Tem edição em SuperAudioCD, de 2003.

1º andamento

Abro aqui o meu tema favorito: a música. Serve este espaço para expressar as minhas opiniões sobre o mundo da música e para partilhar as minhas experiências auditivas. Aguardem notícias.