Voltando ao concerto, o ambiente era fantástico. Mesmo com a chuva, que apenas ameaçou umas duas ou três vezes antes da entrada dos músicos, assistindo-se a um movimento em massa de milhares de pessoas para as escadas da bancada, para minutos depois voltarem ao relvado.
Depois dos já muito discutidos Interpol, e do compasso de espera habitual, o quarteto de Dublin irrompeu pelo palco, tomando as suas posições e iniciando com o Beautiful Day – uma bela e simbólica forma de iniciar uma “viagem”. Logo aqui, Bono acusando o cansaço do segundo dia, ficou momentaneamente sem voz, algo que resolveu definitivamente a água engarrafada, se não em engano, do Luso. Do All That You Can’t Leave Behind tocaram, ainda, o enérgico Elevation e o hino Walk On, dedicado a Aung Sang Suu Kyi e com uma pitoresca procissão das velas da Amnistia Internacional. Sem grandes dramatismos nem exagerada exuberância na comunicação com o público, e sempre compenetrados nas suas funções, Bono e companhia foram desfiando o rosário dos seus sucessos, de onde os momentos altos do concerto foram, para mim, o Pride (In The Name Of Love), na maneira como pareceu ter contagiado toda a audiência e o Miss Sarajevo, com Bono a fazer impecavelmente de Pavarotti. Já não gostei tanto daquela espécie de chavão em forma de tentativa de música acompanhada por um riff de guitarra muito gasto, que é o Get On Your Boots, embora muita gente ali à volta parecesse em êxtase com semelhante ensaio de mediocridade que, não visse eu com estes olhos os U2 a executar, dificilmente acreditaria ser uma música deles. Aí está o perfeito exemplo de como há que agradar às massas, mesmo fugindo à excelência e criatividade do costume. Não consigo deixar de odiar esta música pela falta de coerência, pela evidente ausência de letras constantes, pelo fraseamento de guitarra que parece ter saído de um grupo de tributo pouco talentoso aos Deep Purple e pelo péssimo teledisco. Assim como não me agrada sobremaneira o City Of Blinding Lights. Mas isso sou eu, que só costumo gostar de músicas pelo menos uns 20 anos depois de serem editadas…
Após o encore, a banda saiu do palco ao som do Singing In The Rain, celebrizado pelo Gene Kelly, numa espécie de homenagem à perseverança do público naquele dia de tempestade.
Se foi um concerto perfeito? Quase. Valeu pela grandiosidade do palco, pela produção, pelo impacto, pelas músicas, pelo que os U2 representam, por aquela sensação mágica de nos sentirmos esmagados pela luz, pelo som, pelo ambiente, pelas músicas, pelo momento - aquela sensação que só acontece nos grandes concertos. Perfeitos tinham sido os Stones, que vi uns anos antes no mesmo estádio. Estes parecendo 40 anos mais novos, com um Jagger a correr pelo palco e a falar constantemente com o público. Aliás, se querem um bom exemplo de abertura, os Stones tiveram os Xutos em meia hora de imenso profissionalismo e dedicação à música e os Xutos tiveram os Stones a passar pelo camarim em reconhecimento. Mas pronto, estes senhores são de outra onda. It’s only rock’n’roll and fuck it all.
Aos U2 espera-se que continuem na senda das grandes tours a que nos têm habituado, e nesta, a 360º, não desiludiram. Obrigado por isso.
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