O mais antigo festival de música do Porto, o Festival Intercéltico, este ano não se realiza pela primeira vez em 18 edições. Na base da decisão dos organizadores de suspender o festival, está a recusa da empresa municipal Porto Lazer em dar resposta ao pedido de ajudas de custo da organizadora do festival, a Mundo da Canção. O problema é que este festival não é auto-sustentável e, como tal, necessita de pequenos subsídios da autarquia para prosseguir todos os anos. Até aqui, se a Câmara Municipal do Porto não quer subsidiar eventos culturais, está no seu direito. Cada povo tem os líderes que merece, e o Dr. Rui Rio foi eleito democraticamente.
O pior no meio disto tudo é que, se por um lado não há vontade de libertar cerca de 20.000 euros para ajudar a organizar um dos mais animados e pitorescos eventos culturais do Porto, sobram fundos para outros eventos de lazer que ficam muito mais caros e aos quais a autarquia se associa amplamente, como sejam os casos das corridas de automóveis, do Red Bull Air Race, dos inúmeros espectáculos de animação de Natal e S. João, nos quais um qualquer artista popular e romântico de música ligeira cobra mais do que o subsídio que era pedido à CMP para o Festival Intercéltico...
Claro que a diferença entre uns e outros eventos, além da dimensão, é a vocação cultural. A capacidade de educar gostos e de criar massa crítica. A capacidade de mostrar alternativas aos munícipes, que os ajudem a saír deste marasmo cultural em que a cidade do Porto se vê enterrada desde que o sórdido economista assumiu o seu comando.
Mais uma vez, repito: o povo tem os líderes que merece. O povo quer viver na penúmbra, mas com pão e circo de vez em quando, para animar.
Quando Rui Rio insiste na conversa da "subsidiodependência", não deixa de ser demagógico. Certo que existem colectividades que sempre viveram à sombra dos dinheiritos públicos para organizar "fait divers" culturais, feitos por meia dúzia de diletantes para meia dúzia de diletantes. Certo que os dinheiros públicos são de todos nós, e devem ser geridos com parcimónia. Mas quando se fala em eventos como o Festival Intercéltico, que tem atraido espectadores de toda a parte, que tem agregado os maiores nomes nacionais e internacionais da música de expressão celta, que necessitaria de se afirmar continuamente ao longo dos anos para se tornar o bastião da música celta na Península Ibérica, mas que é abruptamente interrompido, qualquer coisa se passa.
A classe cultural e artística anda de costas voltadas com a autarquia há muito tempo. Veja-se o caso do antigo director da Casa da Música, Pedro Burmester, que se recusou em tocar no Porto enquanto Rio fosse Presidente da Câmara. Ora, será que a Casa da Música necessita de subsídios? Será que foi por causa disso? Ou será que Burmester apenas reflecte a revolta que os criadores de cultura sentem pela gestão cultural da CMP?
Veja-se ainda o caso do Rivoli, Teatro Municipal. Há sempre várias formas de olhar para aquele problema, mas se, por um lado, se rentabilizou ao máximo um espaço que pertence a todos os munícipes, pois antes as companhias que lá actuavam angariavam meia dúzia de apreciadores de teatro provenientes das elites culturais, por outro, essa rentabilidade encheu os bolsos do senhor La Feria e criou um vazio enorme na oferta de teatro do Porto. Pior ainda quando se atende aos contornos do contracto, e a todas as ilegalidades cometidas, em nome da guerra armada aos "subsidiodependentes", mas que todos sabem ou pelo menos desconfiam, que na verdade os interesses económicos estão por detrás de tudo. Será que não havia outra alternativa senão deixar o Rivoli entregue apenas a um organizador? Será que não havia forma de alternar espectáculos da produtora do La Feria com outras produtoras, a bem da diversidade de gostos e culturas?
Este povo do Porto tem o líder que merece, infelizmente. E este efeito bola de neve da estagnação cultural só favorece líderes como Rui Rio. Para este, não interessa nada que se desenvolva massa crítica. Não interessa atraír criadores de cultura e opinião à baixa da cidade. Não interessa criar condições para viver a cultura a que todos temos direito. Para Rio interessa ter um povo bestificado e ignorante, acéfalo e acrítico, que nas eleições valorize o "circo" das corridas de carros e aviões.
Já para não falar da forma totalmente absurda com que Rio tratou a instituição Futebol Clube do Porto. Em nenhuma cidade do mundo em que o clube que a representa tenha ganho uma prova desportiva internacional, o responsável pela autarquia se recusou a receber os dirigentes, jogadores e equipa técnica desse clube. Fosse Rui Rio um portuense orgulhoso das suas origens e receberia por dois anos consecutivos a comitiva do FCP na Câmara Municipal, pois mais do que nada ou ninguém, o FCP colocou o nome da Cidade em todo o mundo, ao ganhar a taça UEFA e a Taça dos Clubes Campeões Europeus, e ainda a Taça Intercontinental. Em qualquer câmara municipal de qualquer vila ou cidade do país, quando um clube de futebol inaugura uma casa, os seus dirigentes são recebidos pela autarquia e trocam galhardetes nos salões nobres. Rio virou as costas ao mais representativo clube da supostamente sua cidade.
O Porto necessita de cultura como de pão para a boca. Necessita de eventos culturais que animem as suas ruas e as suas noites. Precisa de se manter vivo no meio deste deserto que é a baixa da cidade, que à força da insegurança e da especulação imobiliária, foi sendo abandonada pelos seus habitantes. O Festival Intercéltico era um daqueles eventos que trazia gente para a rua, para a baixa. Gente animada e feliz por estar na cidade, a viver a música, a comungar por um bem comum que é a vida em liberdade na sua cidade. A conhecer gentes de outros lugares, de outras culturas. A conviver, a aprender.
O Festival Intercéltico, não tenho duvida nenhuma, ressuscitará um dia, quando o povo não tiver o líder que merece, mas o líder que precisa. Até lá, não vejo a cena cultural do Porto muito clara.
Link para a reportagem do Festival Intercéltico do ano passado
O pior no meio disto tudo é que, se por um lado não há vontade de libertar cerca de 20.000 euros para ajudar a organizar um dos mais animados e pitorescos eventos culturais do Porto, sobram fundos para outros eventos de lazer que ficam muito mais caros e aos quais a autarquia se associa amplamente, como sejam os casos das corridas de automóveis, do Red Bull Air Race, dos inúmeros espectáculos de animação de Natal e S. João, nos quais um qualquer artista popular e romântico de música ligeira cobra mais do que o subsídio que era pedido à CMP para o Festival Intercéltico...
Claro que a diferença entre uns e outros eventos, além da dimensão, é a vocação cultural. A capacidade de educar gostos e de criar massa crítica. A capacidade de mostrar alternativas aos munícipes, que os ajudem a saír deste marasmo cultural em que a cidade do Porto se vê enterrada desde que o sórdido economista assumiu o seu comando.
Mais uma vez, repito: o povo tem os líderes que merece. O povo quer viver na penúmbra, mas com pão e circo de vez em quando, para animar.
Quando Rui Rio insiste na conversa da "subsidiodependência", não deixa de ser demagógico. Certo que existem colectividades que sempre viveram à sombra dos dinheiritos públicos para organizar "fait divers" culturais, feitos por meia dúzia de diletantes para meia dúzia de diletantes. Certo que os dinheiros públicos são de todos nós, e devem ser geridos com parcimónia. Mas quando se fala em eventos como o Festival Intercéltico, que tem atraido espectadores de toda a parte, que tem agregado os maiores nomes nacionais e internacionais da música de expressão celta, que necessitaria de se afirmar continuamente ao longo dos anos para se tornar o bastião da música celta na Península Ibérica, mas que é abruptamente interrompido, qualquer coisa se passa.
A classe cultural e artística anda de costas voltadas com a autarquia há muito tempo. Veja-se o caso do antigo director da Casa da Música, Pedro Burmester, que se recusou em tocar no Porto enquanto Rio fosse Presidente da Câmara. Ora, será que a Casa da Música necessita de subsídios? Será que foi por causa disso? Ou será que Burmester apenas reflecte a revolta que os criadores de cultura sentem pela gestão cultural da CMP?
Veja-se ainda o caso do Rivoli, Teatro Municipal. Há sempre várias formas de olhar para aquele problema, mas se, por um lado, se rentabilizou ao máximo um espaço que pertence a todos os munícipes, pois antes as companhias que lá actuavam angariavam meia dúzia de apreciadores de teatro provenientes das elites culturais, por outro, essa rentabilidade encheu os bolsos do senhor La Feria e criou um vazio enorme na oferta de teatro do Porto. Pior ainda quando se atende aos contornos do contracto, e a todas as ilegalidades cometidas, em nome da guerra armada aos "subsidiodependentes", mas que todos sabem ou pelo menos desconfiam, que na verdade os interesses económicos estão por detrás de tudo. Será que não havia outra alternativa senão deixar o Rivoli entregue apenas a um organizador? Será que não havia forma de alternar espectáculos da produtora do La Feria com outras produtoras, a bem da diversidade de gostos e culturas?
Este povo do Porto tem o líder que merece, infelizmente. E este efeito bola de neve da estagnação cultural só favorece líderes como Rui Rio. Para este, não interessa nada que se desenvolva massa crítica. Não interessa atraír criadores de cultura e opinião à baixa da cidade. Não interessa criar condições para viver a cultura a que todos temos direito. Para Rio interessa ter um povo bestificado e ignorante, acéfalo e acrítico, que nas eleições valorize o "circo" das corridas de carros e aviões.
Já para não falar da forma totalmente absurda com que Rio tratou a instituição Futebol Clube do Porto. Em nenhuma cidade do mundo em que o clube que a representa tenha ganho uma prova desportiva internacional, o responsável pela autarquia se recusou a receber os dirigentes, jogadores e equipa técnica desse clube. Fosse Rui Rio um portuense orgulhoso das suas origens e receberia por dois anos consecutivos a comitiva do FCP na Câmara Municipal, pois mais do que nada ou ninguém, o FCP colocou o nome da Cidade em todo o mundo, ao ganhar a taça UEFA e a Taça dos Clubes Campeões Europeus, e ainda a Taça Intercontinental. Em qualquer câmara municipal de qualquer vila ou cidade do país, quando um clube de futebol inaugura uma casa, os seus dirigentes são recebidos pela autarquia e trocam galhardetes nos salões nobres. Rio virou as costas ao mais representativo clube da supostamente sua cidade.
O Porto necessita de cultura como de pão para a boca. Necessita de eventos culturais que animem as suas ruas e as suas noites. Precisa de se manter vivo no meio deste deserto que é a baixa da cidade, que à força da insegurança e da especulação imobiliária, foi sendo abandonada pelos seus habitantes. O Festival Intercéltico era um daqueles eventos que trazia gente para a rua, para a baixa. Gente animada e feliz por estar na cidade, a viver a música, a comungar por um bem comum que é a vida em liberdade na sua cidade. A conhecer gentes de outros lugares, de outras culturas. A conviver, a aprender.
O Festival Intercéltico, não tenho duvida nenhuma, ressuscitará um dia, quando o povo não tiver o líder que merece, mas o líder que precisa. Até lá, não vejo a cena cultural do Porto muito clara.
Link para a reportagem do Festival Intercéltico do ano passado
1 comentário:
Triste!
Estava com esperança de rever os Galandum Galundaina este ano.
De resto, boa análise da lamentável, mas bem real estagnação cultural da nossa bela cidade.
Cumprimentos.
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