31 maio, 2008

Amy Quê?

A cantora britânica Amy Winehouse deu mais uma demonstração da sua incompetência ontem à noite no Rock in Rio Lisboa, ao actuar notoriamente embriagada e com a voz comprometida. É, na minha humilde opinião, motivo para pedir o dinheiro do bilhete de volta a quem lá foi ver e a devolução do cachet à organização do evento. Por mais talentosa que seja a artista em questão, nada pode justificar o ter ido trabalhar embriagada de tal forma que nem pôde fazer valer o seu talento principal que, admito, é a voz e a excelente capacidade de interpretação.

Ora se eu for trabalhar embriagado, o mais certo é ser despedido. E se enquanto o fizer, causar danos a terceiros, o mais certo é ter que os ressarcir dos danos causados.

Estas demonstrações "gratuitas" de estados translúcidos por parte dos profissionais da arte de fazer música só são justificáveis na medida em que os ajude a superarem-se, a darem o seu melhor, a mostrarem a profundidade da sua arte. Como tal, até posso admitir a utilidade do LSD durante as décadas de 60 e 70, que muito contribuíram para algumas das melhores criações da humanidade. Até posso desmistificar o uso de marijuana e outras substâncias que tenham algum tipo de efeito não demasiado deletério dos estados de consciência. Mas o álcool em excesso que a senhora Winehouse ostenta, é injustificável, imperdoável. É um péssimo exemplo que parte de uma pessoa com uma grande visibilidade mundial e uma enorme aceitação por parte do público. É uma péssima influência num mundo em que o álcool, apesar do seu consumo excessivo ser um perigo enorme para a saúde pública, continua a ser socialmente aceite sob o olhar condescendente de todos nós.

E lembra-me, também, que a rejeição da legalização, despenalização e liberalização das substâncias portadoras de canabinol continua a ser uma enorme hipocrisia. Pois que uma Amy charrada até seria capaz de cantar e montar um bom espectáculo, e bebada não. Pois que, por mais que seja desaconselhável para ambos os casos, preferia cruzar-me na estrada com alguém que tivesse consumido uma dose razoável de marijuana do que com um alcoolizado.

29 maio, 2008

Chamem a polícia!

Eu não pago!!! Eu não pago!!!

(Trabalhadores do Comércio)

22 maio, 2008

Biba!

O Le Musicien está com o MCP




E aqui está uma boa maneira de mandar à fava o acordo ortográfico que Lisboa (e Brasília, digamos sem preconceito), quer impingir a todos os portugueses.

21 maio, 2008

Joe Cocker em Gaia

É hoje o concerto do Joe Cocker em Gaia, no Pavilhão Municipal. Ainda há bilhetes disponíveis.



«Um grande concerto integrado nas comemorações em Vila Nova de Gaia do Maio de 68, cujo tema é "Maio de 68, 40 anos depois".»

18 maio, 2008

Lovecats / Cats to Love

The Cure - Lovecats




Bichanos do Porto - Cats to Love

A ouvir...


Charlie Haden e Carlos Paredes. "Dialogues". (Polygram 1990). Imperdível.

O Mestre Carlos Paredes e a sua heterodoxa e portentosa abordagem à guitarra portuguesa, como um músico académico, virtuoso, temperamental e inovador, encontra o génio do contrabaixo, senhor Haden. O resultado vem num álbum que, a músicas tantas, torna-se intimista e profundo até dizer chega. Mas nunca chega, e só se quer ouvir mais.

10 maio, 2008

Freak show #17

Se há agrupamento musical com o qual eu não alinho, é com os Scorpions. Nunca os achei nada de especial. Baladeiros com uma nesga de talento, que pariram 2 ou 3 musiquinhas agradáveis.

Achava isto mesmo antes de conhecer as capas dos discos. Depois, é o descalabro!


Veja-se a capa do disco Lovedrive. Qual é o intuito? Que significa aquela mão? O que é que... Enfim. Os alemães (alguns, não todos, claro) sempre foram pródigos em bom gosto e boas capas, e não é preciso ir muito longe. Veja-se o exeplo, neste blog, do Herr Heino...

Se alguém conseguir discernir o significado da capa, por favor comente, antes que eu pense que só eu é que estou maluco e vivo rodeado de gente brilhante e mentalmente saudável! Para onde é que a senhora está a olhar? Será que a senhora não se sente incomodada por ter uma substância gosmenta agarrada ao seu seio? Pela sua expressão perdida no infinito, quer-me parecer que está completamente drogada e entregue a um tarado de fatinho de três peças com fetiches estranhos envolvendo enormes quantidades de pastilha elástica e bancos de trás de automóveis.


O seu maior sucesso discográfico foi alcançado com o Animal Magnetism. Este aqui já faz sentido, porque tem um animal. E não é um animal qualquer. É um cachorro de marca alemã! Mas que faz o senhor com a garrafa de mini e a mão no bolso de trás das calças? Será português? E a senhora ajoelhada? E a paisagem? A senhora está mesmo a morder o lábio inferior? Pelo panorama visível, quer-me parecer que o resto do senhor não deve dever nada à beleza e bom gosto. Imagino um homem de bigode à Chalana, risco ao meio à Paulo Bento, camisa aberta até ao umbigo com um cordão de prata de 340g ao pescoço, a sobressaír por entre o farto tapete de pêlos. A unhaca não se vê porque está dentro do bolso. É português, sim senhor! Com alguma sorte, é o Zezé Camarinha! Está explicada a admiração da alemã!

Resta-me referir que este agrupamento musical alemão foi o primeiro a fazer um bailarico na Rússia após a queda da URSS. Mais um pontinho contra!

07 maio, 2008

Sondagem

Faltam 100 dias para fechar a sondagem aberta ali do lado direito, sobre os registos musicais que os nossos leitores utilizam mais frequentemente no dia-a-dia.

Numa altura em que o mercado discográfico atravessa uma mudança paradigmática, nota-se pelas poucas respostas da sondagem, que o CD ainda vive. Parecem-me boas notícias.

Falta às editoras um refrescar de investimento neste formato que ainda tem tanto para dar e que se mantém uma boa referência em termos de qualidade, e ao Governo o ajuste do IVA para valores relativos a bens culturais.

Que continue a votação! Obrigado àqueles que votaram e aos que hão-de votar.

06 maio, 2008

O HiFi tornado popular


São cada vez mais os exemplos de excelente electrónica de áudio, construída com qualidade, com ou sem mão-de-obra oriental, que surge no mercado a preços fabulosos.

Os novos circuitos de amplificação baseados na tecnologia Tripath ou ICEpower vieram oferecer novas opções sobre os tradicionais transistores, aumentando o rendimento para valores próximos da perfeição, o que significa que estes novos amplificadores não dissipam quase nenhum calor e gastam muito pouca energia eléctrica.

Além disso, podemos encontrar este tipo de amplificação a preços inacreditáveis, como por exemplo o TrendsAudio ta 10.1. que, com a queda do dólar, já deve andar por valores próximos dos 100 euros. Isto por uma máquina sobre a qual a revista online independente TNT-Audio disse:

"A small nice marvel that clearly outperforms both the original T-Amp and its bigger brother Super T-Amp. That's the Trends Audio TA 10.1. This amp proves how much quality was hidden inside the Tripath TA 2024 chipset. If you can forget the low power output limitations (6 watts on 8 Ohm, 10 watts on 4 Ohms) it is hard to find something better even at 10 times its price.
I understand this is a bold statement but, as usual, don't take my words as gospel and judge by yourself, without prejudice. With the right speakers this amplifier can be the heart of any high-end system.

Recommended? No, you simply must have one :-) "

Digamos que por mais uns 300 euros e alguma paciência, conseguir-se-á construir um excelente sistema stereo de alta fidelidade sonora à volta deste amplificador.

Queima das Fitas

Aproveitando este espaço dedicado à música, aproveito para divulgar, já com atraso considerável, as Noites da Queima do Porto, e as Noites do Parque de Coimbra.


De Coimbra chamo a atenção para o palco secundário, onde muitas vezes aparecem revelações que nos anos seguintes listam no palco principal das muitas noites de festa do país inteiro.



01 maio, 2008

Maio... maduro Maio


Este álbum é do melhor que se fez e faz na música portuguesa em todos os aspectos, desde a qualidade artística e musical, à sensibilidade, integração, significado, história e qualidade sonora a nível de gravação, mistura e masterização.

Não escapa à regra, sendo do melhor que se faz por portugueses, ter sido feito no estrangeiro. Editado em 1971, foi produzido pelo genial José Mário Branco e gravado por Gilles Sallé no Strawberrie Studio, em França.

É perfeito para ouvir num dia como este, quando recordamos as lutas dos trabalhadores e as conquistas de Abril e lamentamos a sua lenta diluição. Mas o Zeca está lá sempre a lembrar-nos que temos que lutar, que Abril vencerá!

Foi deste álbum que foi tocada, na Rádio Clube, a contra-senha da revolução, a famosa Grândola Vila Morena.

Deixo aqui este testemunho de alguém que não consegui identificar ainda, mas que esteve lá no momento da gravação da música "Chamava-se Catarina", homenagem a Catarina Eufémia, mártir do satrapismo fascista:

« Nascido para, como diz a cantiga, "abrir grandes janelas", o Zeca sempre suportou maio fechamento - quer o das ideias, quer o dos espaços.
Das duas vezes que foi a Paris gravar comigo, em 1971 ("Cantigas do Maio") e 1973 ("Venham mais cinco"), nunca ele escondeu quanto lhe desagradava e o indispunha a necessidade de ficar fechado no estúdio durante horas, e quanto ele não gostava nada de Paris nem do ambiente dos portugueses de Paris - hoje entendo como tinha razão.
Porque haveria de ser preciso fecharmo-nos, horas e horas a fio, na tensa clausura de um estúdio de gravações, se o objectivo era precisamente registar os grandes e puros espaços sonoros das suas melodias, a frescura densa da sua voz, a força simples e lírica das suas palavras? As máquinas! custava-lhe aceitar que a "limpeza" e a "verdade" do som só pudessem ser conseguidas, neste mundo sujo e atravancado, por meio das máquinas, das técnicas, do isolamento acústico. Custava.lhe aceitar que, para fazer chegar aos outros as coisas belas e simples que inventava, fosse preciso tanta guerra para reconquistar o silêncio, a página branca, o patamar vazio donde tudo tem que partir.
Assim, por entre mil episódios que atestam o que acabo de dizer, há esse - o da gravação do "Cantar Alentejano" ("Chamava-se Catarina... ") - que testemunhei aquando da gravação das "Can­tigas do Maio", juntamente com a Zélia, o Fanhais, a Isabel Alves Costa, o técnico Gilles Sallé e, naturalmente, o violista Carlos Correia (Bóris). A opção de arranjo foi: só a viola, e a voz do Zeca. Sem rede.
O regime de gravações - tardes e noites - fez que, nesse principio de tarde, fosse a altura de gravar o "Cantar Alentejano", "Vamos a isto, Zeca?", ia eu dizendo, naturalmente preocupado com a factura do estúdio. "Não tens nada para ir metendo?", desconversava ele. Via-se que não estava pronto. "Queres ir me­tendo outras coisas? Faltam vozes no "Milho Verde" e no "Senhor Arcanjo"... E assim ia passando a tarde. "Está bem, vamos me­tendo outras vozes". Mas não se conseguia grande coisa. A alma dele - percebi depois - estava toda no Alentejo, nos olhos de Catarina Eufémia. E, como tantas vezes acontecia, andava no estúdio para cá e para lá, em passos nervosos, como o jovem leão na sua jaula.
Até que, já pela tardinha: "Eu vou até lá fora, olhar para as vacas" - o estúdio era numa quinta apalaçada, no meio dos campos. Desapareceu, uma hora ou duas. Quando voltou já era quase noite. "Vamos gravar a Catarina". O Bóris meteu-se na pequena cabina, para o som da viola ficar isolado da voz. O Zeca, no meio do estúdio, sozinho e às escuras, cantou. Uma só vez. É essa que está no disco.
Nós, os outros, os privilegiados espectadores, estávamos na central técnica, quase todos a chorar incluindo o técnico francês. "Acham que é melhor eu cantar isto outra vez?"
"Não, Zeca, não. Está muito bem assim..." »