24 novembro, 2009

Eu bem que avisei!

Em Abril comecei a cheirar aí umas tendências à espreita e publiquei o post Vira o disco, onde reza mais ou menos assim:

"(...) Acontece, exactamente, que a época que se segue ao Punk e pós-Punk obscuro e que reúne estas características é, exactamente, a gloriosa cena de Seattle. Por isso, sou capaz de apostar que o próximo hype, o próximo delírio colectivo à volta da imitação ou evocação de uma dada era, está relacionado com o imaginário grunge. Em boa verdade vos digo que se há-de voltar a ver gente vestida com camisas de flanela ao xadrez, calça de ganga coçada e rasgada, botas Doc Martens. (...)"

Em Outubro, estava a passar em frente à FNAC da Pl. Cataluña e apanhei o gratuito ADN, que confirma o que eu vaticinei.



Acontece que à reedição do Ten dos Pearl Jam já se seguiu a reedição do Bleach, o primeiro álbum dos Nirvana. As lojas de roupa começam a ter camisas ao xadrêz. As DocMartens voltaram às sapatarias. As séries de televisão, como a recente "novela" Gossip Girl, também já começam a espelhar este novo hype.

(Slinkman suspira fundo e começa a sentir nostalgia de movimentos originais que não são apenas baseados em dresscodes...)

23 novembro, 2009

As Mãos e o Lume


José Pedro Leite, um desses raros poetas cujos sentidos são atravessados de palavras, volta a surpreender-nos com o seu novo livro, As Mãos e o Lume. Se em Outros Litorais os pássaros da contemplação voavam para fora de nós, mostrando-nos um mundo luminoso sintetizado em sensações, neste os mesmos pássaros voltam para nós em chamas, lembrando-nos da nossa condição carnal, desbravando o útero da nossa existência, das nossas angústias e temores.

Aqui, a luz que existe, quando existe, é a da chama da noite que convoca o desejo, o sangue tenso nas veias e os sexos na vertigem da entrega. E os despertares são mornos e raiados de cinza. O sol demora sempre, vago, lento, e quando surge, é nostálgico, remetendo-nos para a infância. A tempos, surge em todo o seu esplendor, mas é mais um sol de fogo que de luz. E o mar, sempre presente, é a líquida metáfora do sal do corpo.

Com prefácio de Miguel Ramalhete Gomes, dividido em três livros, As Mãos e o Lume, Antes da Água e Equilíbrio Solar, ganhou o Prémio Políbio Gomes dos Santos 2009, da Câmara Municipal de Ansião em parceria com a Associação Portuguesa de Escritores, e está disponível em edição de autor, para já, no espaço Era Uma Vez no Porto.

Rui Valdiviesso