Acontece, exactamente, que a época que se segue ao Punk e pós-Punk obscuro e que reúne estas características é, exactamente, a gloriosa cena de Seattle. Por isso, sou capaz de apostar que o próximo hype, o próximo delírio colectivo à volta da imitação ou evocação de uma dada era, está relacionado com o imaginário grunge. Em boa verdade vos digo que se há-de voltar a ver gente vestida com camisas de flanela ao xadrez, calça de ganga coçada e rasgada, botas Doc Martens.
Talvez por causa de adivinharem o mesmo, ou apenas para comemorar o seu 20º aniversário, os Pearl Jam, banda que surgiu na cena de Seattle, dentro do universo grunge, mas que soube gerir como ninguém a sua carreira, muito graças à calma e clarividência do seu vocalista Eddie Vedder, começou a reeditar os seus álbuns em edições especiais. O primeiro é o clássico Ten, do fabuloso ano de 1991, que reviu a luz do dia no mês passado, em vários formatos normais e de luxo, com vinil à mistura. (A capa da imagem é a alternativa da edição de 2009).
Claro que os Pearl Jam, sendo uma banda que, mais do que sobreviveu, prosperou num ambiente algo destrutivo, e seguiu sempre em frente lidando com as novas tendências e adaptando-se em conformidade, não é o exemplo perfeito da era grunge. Mas ainda temos os Nirvana, os Soundgarden, os Alice in Chains, just to name a few! De todos estes, os Nirvana atingiram o auge com o álbum Nevermind, o da conhecida capa do bebé a nada atrás da nota, em 1991. No mesmo glorioso ano em que saíu o Ten dos Pearl Jam, e que para mim foi um dos "anos de ouro" da música contemporânea. Senão, vejamos: os U2 baralham as cartas e voltam a dar, escandalizando os joshuatreeanos com o seu fantástico Achtung Baby; os gigantes Red Hot Chili Peppers, que ainda tocaram e foram tocados pela cena grunge, lançam o seu grande marco, o Blood Sugar Sex Magic.
Quanto a mim, só espero que o revivalismo, já que não se pode evitar, siga estas tendências que antevi. E, sendo ambicioso, espero também que sirva para "desenterrar" as velhas influências do grunge, como o Neil Young, os Pixies, os Led Zeppelin, os Black Sabbath e tantos outros. Isso sim, seria um bom hype, que podia ter o seu papel pedagógico, mostrando a muita gente que afinal havia vida mesmo antes dos anos 80.
Acabo, deixando um vídeo fantástico dos Red Hot Chili Peppers, que satiriza o passar do tempo dos estilos, mas que também homenageia de forma brilhante o Curt Cobain quando chega à era grunge.