30 março, 2006

Adquirir o gosto


Aqui não há concessões: a verdadeira arte do apreciador é a aprendizagem. É preciso aprender a gostar, e para isso, é necessário algum esforço e alguma concentração. Quando nos é dado a ouvir algo que exige ainda mais de nós, o risco para o artista é enorme. Os Gentle Giant, grupo britânico de rock progressivo, dispuseram-se a correr esse risco quando editaram um conjunto de álbuns – 12 entre 1970 e 1980 - de música considerada eclética.
O álbum que vos trago hoje é, não só aquele que pode ser uma introdução para a música desta excelente banda, muito pela força do título – Acquiring the Taste – como também aquele em que os elementos da banda assumem literalmente esse risco, como se pode ler no disclaimer:

“É o nosso objectivo expandir as fronteiras da música popular contemporânea, sob o risco de nos tornarmos muito impopulares. Gravámos cada composição com um pensamento – que deveria ser única, aventureira e fascinante. Para o conseguir, foi necessário cada fragmento dos nossos conhecimentos técnicos e musicais combinados. (traduzido)”

E isto é verdadeiro: os músicos desta banda tocam, entre todos, cerca de 30 instrumentos, frequentemente trocando de instrumento durante os concertos, e cinco dos elementos cantam!
Para os ver ao vivo, só em vídeo. Existe um DVD oficial – Giant on The Box (2004) – que reporta raras aparições da banda em programas televisivos e entrevistas.
Se o prezado leitor se quiser envolver no caminho sem retorno da aquisição do gosto por esta música, pode também experimentar outras excelentes obras do grupo, como o Octopus (1972), In a Glass House (1973) ou The Power and the Glory (1974).
O Acquiring the Taste (1971) existe em LP e CD da Phonogram / Vertigo / PolyGram, e a qualidade sonora é muito boa.

21 março, 2006

Um pouquinho mais...

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"This is the end of men's long union with earth"

"Why don't you touch me?"

"You yourself are just the same / As what you see in me"

16 março, 2006

The Musical Box


Admito não ser a mesma coisa. Nem de perto nem de longe. Mas apenas o melhor a que se pode aspirar, para quem não viu o original. No meu caso, não vi o original porque não era nascido. E este original é, nada mais nada menos que o primeiro grande concerto rock realizado em terras lusas, em 6 e 7 de Março de 1975 no pavilhão do Dramático de Cascais, sobre o qual a revista Cais de Março de 2005 fez uma excelente retrospectiva. Estou a falar dos Genesis, de Tony Banks, Michael Rutherford, Peter Gabriel, Steve Hackett e Phil Collins. Falo do seu album The Lamb Lies Down on Broadway, o canto do cisne da fase dos Genesis com Peter Gabriel, que anunciou aqui mesmo, em Portugal, a intenção de abandonar o grupo no final da digressão europeia. Estou a falar também da sua banda oficial de tributo - The Musical Box - e do concerto que deram no passado dia 11 de Março no Europarque de Santa Maria da Feira, ao qual fui orgulhosamente assistir.
Pondo de parte o anacronismo e a genética, o concerto foi igual ao album, igual ao espírito dos Genesis, emotivamente igual. O anacronismo porque passaram mais de 30 anos desde o último concerto da The Lamb Tour, e porque a sala estava cheia de quarentões e cinquentões. A genética, porque não eram os Genesis em palco, mas sim a fantástica banda canadiana que voltou a dar vida a todas as músicas do The Lamb e, em encore, tocou ainda o Musical Box e o Watcher of the Skies.
Aprendi ali que fazer tributo é a arte da verdadeira homenagem - a imitação - e que esta só se consegue pela resolução de todos os pormenores, por mínimos que sejam. Desde o hábito que Peter Gabriel ainda hoje tem de introduzir as músicas contando-lhes a história, com o seu muito britânico sentido de humor, até à concentração de Hackett, o atinadinho da banda, passando pelo antagonismo divertido de Collins, agradecendo, no final, que a audiência tivesse permanecido acordada (pronúncio do conflito já evidente no seio do conjunto).
Os próprios instrumentos utilizados pelos músicos são ou vintage, ou imitações perfeitas dos originais, feitas por encomenda, como a estranha guitarra de dois braços de Rutherford, com um baixo barítono de 6 cordas num braço e uma guitarra semi-acústica de 12 cordas no outro. Até os slides que passam em fundo são os originais da digressão dos Genesis.
Ao leitor, aconselho vivamente uma viagem pelos primeiros albuns dos Genesis, da era Gabriel, desde o Trespass até ao The Lamb, passando obrigatoriamente pelos Nursery Cryme, Foxtrot e o Selling England by the Pound.
Para o ano, os flyers prometem o regresso deste excelente conjunto de tributo, na sua derradeira digressão, desta vez com a Selling England Tour. Lá nos encontramos.

03 março, 2006

Eu... vou ali e ja venho!

Quando Pedro Abrunhosa lançou o "Viagens" em 1994, alcançou um nicho estreito mas sortudo de sucesso no panorama comercial da música portuguesa. O album era e continua a ser um bom trabalho de fusão, a piscar o olho ao Acid Jazz, ao BeeBop, ao HipHop e ao Funk, com o irrepreensível saxofone de Maceo Parker. Muito expontâneo, muito "cool". As próprias baladas são coerentes e a melodia é bem trabalhada. Vê-se que foi um trabalho despreocupado de um músico com muita formação, que estava longe de imaginar o sucesso que iria alcançar.
Daí para cá, foi sempre a descer. Falta de inspiração? Não!
Sempre disse e continuo a dizer que o grande defeito de Pedro Abrunhosa é o perfeccionismo. E que esse perfeccionismo tem aumentado continuamente desde o "Viagens", resultando agora na sua obra mais "perfeita" de sempre, em que o artista se libertou completamente do peso de enfiar muitas notas numa música, ou de escrever um refrão com mais de um verso: o "Eu estou aqui".
A musiquinha é, claro está, incompreendida por nós, que somos ignorantes na matéria. Abrunhosa, pelo contrário, está muito à frente do seu tempo, pois sabe que as músicas com dois acordes são, inquestionavelmente, o futuro da música em todo o Mundo. E mais! - que fazer músicas de propósito para publicitar bancos é, realmente, o corolário do seu trabalho. Daí a perfeição!
Pedro, se me estiveres a ler, por favor, liberta-te do estigma da perfeição! Volta a fazer cenas "cool". Deixa de cantar e volta a dar "aquele" Ritmo Às Palavras que fazes tão bem! Senta-te um pouco e pensa, enquanto ouves Dizzy Gillespie, que não há nada melhor no Mundo que fazer a tua cena como te vem na altura.
Até porque o País precisa de ti em grande forma, pá: o Cavaco voltou!