24 abril, 2009

Vira o disco!

E andamos nesta complexa relatividade temporal, em espirais de estilos e épocas no que toca à música. Nos últimos anos, temos visto grande parte da produção musical a seguir influências dos anos 80, principalmente de grupos com afinidade Punk e pós-Punk mas de sonoridades mais polidas. Assim, New Order, The Cure, Joy Division e muitos outros, têm sido plasmados em grupos recentes mas com um imaginário audio-visual que toca verticalmente a curva da espiral do tempo de há mais de 25 anos atrás.

Todos estes delírios de inspiração colectiva não ocorrem por acaso nem incidem sobre todas as eras passadas. Não se vê, profusamente, seguidores de estilos audiovisuais que caíram em desuso. Por exemplo, apesar do Disco Sound ter as suas hostes de apreciadores ainda hoje, passados 32 anos do seu auge, ninguém sai para a rua vestido à John Travolta no Saturday Night Fever, a não ser no Carnaval, e com a excepção do Disco Stu, sendo que este é um personagem dos Simpsons. O que se passa é que as épocas que têm uma associação com estados de espírito mais eufóricos que se reflectem em estilos de vestuário mais exuberantes na forma e na cor, e em estilos musicais mais sincopados e repetitivos, com recurso frequente a sintetizadores para fazer o trabalho todo, são épocas pouco imitáveis, pouco desejáveis. São estilos que não têm aquela atracção pela vertigem da melancolia, do perigo, da perdição. Pelo contrário, as eras do Sexo, Drogas e Rock'n'Roll, cheias de mitos, de suicidas, de gente desgarrada, de génios incompreendidos, de guitarras distorcidas, gritos lancinantes, ambientes misteriosos, são alturas da história extremamente atraentes pelo seu lado negro.

Acontece, exactamente, que a época que se segue ao Punk e pós-Punk obscuro e que reúne estas características é, exactamente, a gloriosa cena de Seattle. Por isso, sou capaz de apostar que o próximo hype, o próximo delírio colectivo à volta da imitação ou evocação de uma dada era, está relacionado com o imaginário grunge. Em boa verdade vos digo que se há-de voltar a ver gente vestida com camisas de flanela ao xadrez, calça de ganga coçada e rasgada, botas Doc Martens.

Talvez por causa de adivinharem o mesmo, ou apenas para comemorar o seu 20º aniversário, os Pearl Jam, banda que surgiu na cena de Seattle, dentro do universo grunge, mas que soube gerir como ninguém a sua carreira, muito graças à calma e clarividência do seu vocalista Eddie Vedder, começou a reeditar os seus álbuns em edições especiais. O primeiro é o clássico Ten, do fabuloso ano de 1991, que reviu a luz do dia no mês passado, em vários formatos normais e de luxo, com vinil à mistura. (A capa da imagem é a alternativa da edição de 2009).
Claro que os Pearl Jam, sendo uma banda que, mais do que sobreviveu, prosperou num ambiente algo destrutivo, e seguiu sempre em frente lidando com as novas tendências e adaptando-se em conformidade, não é o exemplo perfeito da era grunge. Mas ainda temos os Nirvana, os Soundgarden, os Alice in Chains, just to name a few! De todos estes, os Nirvana atingiram o auge com o álbum Nevermind, o da conhecida capa do bebé a nada atrás da nota, em 1991. No mesmo glorioso ano em que saíu o Ten dos Pearl Jam, e que para mim foi um dos "anos de ouro" da música contemporânea. Senão, vejamos: os U2 baralham as cartas e voltam a dar, escandalizando os joshuatreeanos com o seu fantástico Achtung Baby; os gigantes Red Hot Chili Peppers, que ainda tocaram e foram tocados pela cena grunge, lançam o seu grande marco, o Blood Sugar Sex Magic.



Os Nirvana ajustam-se como uma luva a esta ideia do hype como um revivalismo de uma época atormentada, pois acabaram em 1994, com o seu vocalista Curt Cobain alegadamente a cometer suicídio. Deixaram vários álbuns dentro do mesmo sentimento de revolta e desespero, e um espectacular MTV Unplugged in New York.

Quanto a mim, só espero que o revivalismo, já que não se pode evitar, siga estas tendências que antevi. E, sendo ambicioso, espero também que sirva para "desenterrar" as velhas influências do grunge, como o Neil Young, os Pixies, os Led Zeppelin, os Black Sabbath e tantos outros. Isso sim, seria um bom hype, que podia ter o seu papel pedagógico, mostrando a muita gente que afinal havia vida mesmo antes dos anos 80.

Acabo, deixando um vídeo fantástico dos Red Hot Chili Peppers, que satiriza o passar do tempo dos estilos, mas que também homenageia de forma brilhante o Curt Cobain quando chega à era grunge.


17 abril, 2009

05 abril, 2009

Dark Side of the Ticket to Ride


Eu ouvi mesmo. Não estou doido.

Por um acaso do destino ou erro de marcação de preço, certo dia vi o Dark Side of the Moon dos Pink Floyd, edição em Super Audio CD (SACD), comemorativa dos 30 anos deste disco histórico, muito mais barata que a própria edição em CD. Comprei logo.

Há uns tempos, tropecei num artigo do JVH, onde ele afirmava que na última faixa, Eclipse, já no fading onde se ouvem os sons cardíacos, tocava por trás uma parte orquestral do Ticket to Ride, dos Beatles.

Confirma-se.

Este álbum foi masterizado em Abbey Road! Provavelmente, durante a remasterização deste álbum para o formato de SACD, tenham ido buscar alguma fita que os engenheiros de som, na altura, reaproveitaram de alguma sessão dos Beatles.

Não consigo compreender como é que isto escapou! Andam os remasterizadores surdos? (Sinceramente acho que sim, com tanta compressão e barulho em tanto bom disco). Ou então foi propositado.

Disse JVH, no seu proverbial sentido de humor, que deverá ter sido o fantasma de John Lennon a meter-se com os Floyd.

03 abril, 2009

Anedotas de músicos #4

Esta não é bem de músicos, pois entra o Tony Carreira... E li já não sei onde, por isso deixo aqui os cumprimentos ao autor que não conheço. Cá vai:

Qual é a diferença entre o Tony Carreira e o Paulo Bento?

Um tem capachinho e faz tudo para parecer ter cabelo. O outro tem cabelo e faz tudo para parecer ter capachinho.

02 abril, 2009

A ouvir

Obviamente que a mensagem de ontem era uma mentirinha de 1 de Abril.

O que eu estava a ouvir ontem, na verdade, era mesmo:

Bob Dylan - Bringing it all back home (1965). Este sim um excelente álbum de um unti-herói da música.

It's All Over Now, Baby Blue

You must leave now, take what you need, you think will last.
But whatever you wish to keep, you better grab it fast.
Yonder stands your orphan with his gun,
Crying like a fire in the sun.
Look out the saints are comin' through
And it's all over now, Baby Blue.

The highway is for gamblers, better use your sense.
Take what you have gathered from coincidence.
The empty-handed painter from your streets
Is drawing crazy patterns on your sheets.
This sky, too, is folding under you
And it's all over now, Baby Blue.

All your seasick sailors, they are rowing home.
All your reindeer armies, are all going home.
The lover who just walked out your door
Has taken all his blankets from the floor.
The carpet, too, is moving under you
And it's all over now, Baby Blue.

Leave your stepping stones behind, something calls for you.
Forget the dead you've left, they will not follow you.
The vagabond who's rapping at your door
Is standing in the clothes that you once wore.
Strike another match, go start anew
And it's all over now, Baby Blue.


E já agora, para outro desafio "vale um café" (mas nun sítio barato, nada de Majestic, a menos que a companhia seja mesmo agradável), qual o nome do grupo que mais temas do Dylan interpretou na sua discografia?

01 abril, 2009

A ouvir


O último álbum do Tony Carreira está excepcional. Com a qualidade e a sensibilidade com que este grande artista português nos habituou.

A não perder!