25 abril, 2006

10.000 Anos Depois

Qual é o músico português com maior projecção internacional? Ou, posto de outra forma, que músico português tem mais sites a referenciar o seu trabalho que qualquer outro? Mesmo que a Amália. Inclusivamente no Japão. Mais: que músico português viu um dos seus albuns listado no top 100 dos melhores discos de sempre de um determinado género musical? Que disco de um músico português, na sua edição original em vinil, é considerado uma raridade preciosíssima por esse Mundo fora, podendo atingir preços superiores a 1000 euros em leilão?
A resposta é surpreendente; desconcertante, até: José Cid!
E o disco é o "10.000 anos depois, entre Vénus e Marte" (1977/78, Orfeu/Edição Arnaldo Trindade).




Paremos o tempo em 1978. Não vale a pena olhar para trás, para o Cid do quarteto 1111 (considerado um dos primeiros grupos rock portugueses) nem para a frente, para os macacos, as bananas e as cabanas junto à praia. Apenas para aquele ano e para aquele trabalho:
A tendência musical, na altura, andava ávida de ABBA e BeeGees, disco-sound e lantejoulas. O Festival RTP da Canção ainda dava cartas em termos de definição de gostos - ainda era o evento musical do ano. Poucos eram os que se atreviam a fazer algo de novo, de diferente, a custo de se tornarem muito impopulares (lembram-se do post sobre os Gentle Giant?). José Cid quis, apenas, dar uso aos seus grandes dotes de teclista, à sua panóplia de teclados e ao seu talento de compositor. Juntou-se a Zé Nabo (baixo, guitarra acústica, guitarra solo e 12 cordas), Mike Sergeant (guitarra solo e 12 cordas) e Ramon Gallarza (bateria, percussão) e gravou aquele incrível album conceptual sobre a destruição do Planeta Terra por guerras nucleares e poluição, e a fuga para o espaço, numa nave, de um Adão e uma Eva futuristas, que regressavam 10.000 anos depois a uma Terra renovada pela ausência da pressão humana sobre o ambiente. Cid conta esta história ser recorrer a muita letra, apenas a essencial, e com a ajuda das ilustrações do interior do sleeve do disco, a cargo de uma enigmática Isabel. Mas serve-se de uma forma magistral da sua música, da sua melodia, dos seus incríveis teclados e sintetizadores. Entre estes, há Moog, Mellotron, String Ensemble... you name it! (uma das músicas chama-se mesmo Mellotron O Planeta Fantástico!). Há riffs de guitarra incríveis, apoiados numa linha de baixo consistente e assustadoramente melódica e numa bateria ritmicamente irepreensível. Tudo isto embrulhado dá um resultado sonoro final que, apesar de alguma falta de brilho em alguns registos, parece de outro mundo - e é!. É verdadeiro Rock Progressivo, com toda a carga sinfónica e toda a mestria que isso implica.
Contudo, foi um flop enorme na carreira de José Cid. Ninguém queria editar uma obra tão complexa. Face a isto, num gesto de grande altruísmo pela Música, José Cid prescindiu dos direitos para a editora, permitindo assim a edição, embora numa tiragem bastante limitada. As vendas foram fraquíssimas. Não havia público para "aquela coisa" em Portugal. Fosse Cid americano ou inglês e teria sido catapultado para a fama num ápice.
Torna-se agora claro que em Portugal um músico só pode sobrevivier da sua arte se a popularizar ao encontro da espectativa da generalização. Foi o que fez daí em diante o nosso Elton John lusitano, tornando-se um habituée do Festival RTP e brindando o seu público com macacos, bananas e cabanas junto à praia.
Gostava de falar com ele, saber o que é feito do Mellotron e do Moog e de todos aqueles teclados vintage: se ainda os toca em segredo, a medo de ser repreendido por tamanho desplante, ou se os pôs a servir de mangedoura no seu estábulo. Enquanto não o faço, vou-me deleitando com o luxo enorme de descer a agulha do meu gira-discos sobre um círculo de plástico raríssimo, valiosíssimo, e de sentir todo aquele som a saír dos grooves como se fosse uma nave espacial a descolar rumo ao infinito.

01 abril, 2006

1 de Abril


É dia das mentiras, mas o que se passou foi mesmo verdade: em 1966 saíu a público a notícia que o Beatle Paul McCartney tinha morrido num tragico acidente de automóvel e que tinha sido substituído por um duplo, de nome William Shears Campbell (o Billy Shears do Sgt. Pepper's)!
Quem pensar que estou a fazer uma partida de 1 de Abril extremamente redundante, que tome a liberdade de ler a Wikipedia e vai ver que não estou a mentir.
Aparentemente, esta teoria da conspiração do Paul Is Dead tem uma legião de seguidores que encontraram inúmeras pistas na própria música e comportamento dos Beatles que sugere que isso realmente teria acontecido. É incrivel a quantidade de simbolismo que estas pessoas conseguiram vislumbrar nas capas dos albuns dos Fab Four - só a do Sgt. Pepper's tem inumeros sinais que demonstram que os restantes três elementos da banda queriam fazer passar a mensagem de que McCartney tinha realmente morrido.
Um excerto da Wikipedia sobre a capa do Sgt. Pepper's Lonely Herts Club Band:
«McCartney is the only person holding a wooden instrument, representing his coffin, and the instrument is the only one that is black, representing death. The instrument itself is a cor anglais, which is the only instrument shown on the cover which is not used in a marching band. Paul's "true" instrument would have been the tuba, which is sitting unused at feet of the wax figure of Ringo. Paul is the only Beatle wearing a "cool" color (blue), while the other three Beatles are all wearing warm colors. It also appears like he's being propped up by Ringo Starr and Harrison, as if rigor mortis had set in. McCartney is the only person with a hand over his head, a religious symbol for blessing the dead. The hand belongs to Stephen Crane, an American writer who died at the age of 28. Paul is taller than John and George, possibly indicating that it is possibly 'the replacement' in the photo, as Paul, John, and George are the same height.»
Entretanto, e aproveitando a deixa, o Sgt. Pepper's (EMI / Apple, 1967) é um album excelente, obrigatório, que merece ser ouvido com atenção. E sim, isto ainda é verdade!